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Muito bem, então vamos começar. Boa noite a todos, serão bem-vindos. Espero que o som esteja chegando bem aí, não só para vocês, mas para aqueles que estão ouvindo através da internet. Vou começar antes de entrar propriamente no assunto da aula, vamos fazer umas observações gerais sobre a vida de estudos no Brasil. Ao longo de toda essa minha experiência de ensino, que já vai para mais de 20 anos, eu tenho observado que as condições mais elementares da vida intelectual continuam sendo desconhecidas no Brasil. Já eram desconhecidas 30 anos atrás e hoje mais ainda. O que aconteceu na história mental do país nos últimos 30 anos é uma tragédia da qual eu não encontro precedentes no mundo. Eu vejo por exemplo que hoje o Brasil é um país sem uma literatura própria, não existe mais a literatura brasileira, ela simplesmente desapareceu. A literatura é sempre uma reflexão, uma expressão reflexiva da experiência devido pelo povo. E essa experiência tem que ser transfigurada em símbolos, de modo que aquilo que aconteceu, como impressão, mais ou menos às vezes passageira, às vezes quase inaprensível, seja fixado simbolicamente e possa ser então revivido por outras pessoas. É um processo bastante complexo que depende sempre do estado da língua e depende de existir uma comunidade de pessoas mais ou menos preparadas com uma linguagem comum e uma sensibilidade comum, assim que daí possa ser diferenciada de acordo com a experiência individual de cada um. Nas últimas décadas a condição básica para a existência de uma literatura desapareceu completamente. Essa condição é que as inteligências individuais, as almas individuais sejam estimuladas, pelo menos seja permitido que elas vivenciem a experiência comum e possam expressá-la. Acontece que a história do Brasil nos últimos 30 anos foi cristalizada e petrificada numa versão oficial que se espalhou por toda a intelectualidade e que se impõe como verdade definitiva para já para duas ou três gerações de pessoas. Essa versão então é a versão oficial do partido governante no Brasil hoje, quer dizer, a autoglorificação da esquerda, a história auto-vitimizante, lamorienta dos anos de chumbo, tudo isso impregnou de tal maneira a imaginação da classe letrada no Brasil que não se pode pensar nada, nada, nada fora disso. Ora, não existe nada que sufoque mais a imaginação literária do que uma versão oficial transmitida uniformemente a todo o sistema de ensino, ou seja, celebrada em editoriais e reportagens de jornal toda hora repetida pela televisão, pelo cinema e consagrada, enfim, em leis que premiam com indenizações ou supostos heróis dos anos 60 e 70. Tudo isso se tornou, vamos dizer, tão indiscutível que já não é possível. Quer dizer, essa é a história brasileira, essa é a experiência brasileira dos últimos 30 anos, tal como transmitida as novas gerações. Não existe nenhuma possibilidade de criação literária em cima disso, por quê? Porque este filão já estava esgotado praticamente nos anos 60, nos anos 60 saíram, nos anos 67, salvingando, saíram dois livros que já tinham compactamente toda essa visão de mundo que veio mais tarde a se consagrar como versão oficial da experiência brasileira. Estes dois livros eram um do António Calado, que se chamava Quarupi, e o outro o do Carlos Eitor Coni, chamado Pessach, Atravessia. Se você ler esses dois livros, você já vai ver antecipadamente toda a vivência que a intelectualidade esquerda teve da existência nacional desde então. Nada a nada foi acrescentado aquilo. Ou seja, a vivência ali era mais ou menos o seguinte, de uma geração de intelectuais que tinha grandes esperanças para o país e que foi repentinamente sufocada por um regime brutal, fascista, que les impediu a liberdade de expressão, etc. E essa versão, pelo lugar, não corresponde à realidade. Quer dizer, os anos da ditadura foram anos de maior criatividade literária do que os anos da chamada Nova República. O que o Brasil continuou produzindo de literatura interessante e valiosa se prolongou mais ou menos até os anos 70 e 80. Quando chegou nos 80 foi justamente aí que estrangulou tudo. Isso quer dizer, não pode ter sido a ditadura que sufocou, porque sufocou a inspiração literária, porque durante a ditadura essa inspiração ainda existia. Eu não tenho as datas exatamente na cabeça, mas eu vou tentar recompor algumas coisas que saíram de interessante. Eu lembro que na década de 70 saíram dois romances valiosos do António Torres. Eu creio que entre 72 e 76. O primeiro chamava os homens dos pés redondos e o outro chamava essa terra. Também por aquela época, eu creio que o último livro interessante do João Baldo Ribeiro saiu no começo dos anos 80, que foi Viva o Povo Brasileiro. E ainda no mesmo período, na década de 70, saíram os livros do José J. Reiga, o que chamava Sombras de Reis Barbudos e o último, o último revento da criatividade literária brasileira foi em 1984, o livro do Lê do Ivo chamado A Morte do Brasil. Foi isso que saiu por aqueles anos, quer dizer, fazendo a experiência do próprio período da ditadura. Primeiro refletindo diretamente, quer dizer, através do retrato mais ou menos realista dos acontecimentos, como se vê no Quarup. Quarup documenta o surgimento das guerrilhas entre os militantes da esquerda católica e o livro do Coni, o Pessacha Travessea, mostra como um jornalista mais ou menos apolítico, que no caso representa ele mesmo, pego nas mares dos acontecimentos e acabo mais participando da guerrilha, mais ou menos involuntariamente. Então, essas narrativas do começo, do surgimento da guerrilha, elas já expressam toda de uma vez toda a visão que a intelectualidade esquerda teve do desenrolar os acontecimentos nos 30 anos seguintes. Já está tudo ali, compactado ali, nada, nada, nada, nada mais foi acrescentado. Vamos dizer que a única diferença que houve nos anos seguintes, nos anos seguintes, foi exatamente com essas românsicas que eu citei, do António Torres, do Lê do Ivo e do João Baldo Reiber, uma passar, vamos dizer, um retrato direto da circunstância política que havia no Quarup e no Pessacha, para, um aprofundamento das repercussões da situação nas camadas mais profundas da psicologia individual, por meio de um retrato mais indireto. Isso foi tudo. Mas pode-se dizer que com o livro do Lê do Ivo, que chama Morte do Brasil, de 1934, o que morreu não foi o Brasil, foi a literatura brasileira. Aquilo foi, vamos dizer, esse filão, quer dizer que é a literatura de auto-lamentação da intelectualidade, esquerdista supostamente esmagada pela ditadura, esse filão, vamos dizer, propiciou uma literatura florescente naqueles anos, até os anos 80, está certo? E depois justamente quando veio a nova república e a restauração da democracia, foi exatamente aí que a inspiração acabou. Então isso quer dizer que é uma diferença muito importante entre aquela época e hoje, é que a ditadura militar não fez nenhum esforço para dirigir a cultura. A ditadura militar atuou de maneira bem repressiva, em cima da esquerda armada, mas a esquerda desarmada continuou atuando, com bastante liberdade, havia vários jornais de esquerda circulando, a indústria do livro esquerdista floresceu como jamais, quer dizer, o período da ditadura foi o período que mais se imprimiu o livro esquerdista no Brasil e mais ainda havia ajuda oficial às editoras da esquerda, o principal editor esquerdista que era o Enio Silveira, ele pouco antes de morrer, ele me contou que a editora dele, que é a civilização brasileira, só sobreviveu naqueles anos graças à ajuda do governo, quando a situação apertava ele ia lá no Golberi, Golberi soltava um dinheirinho, mas ainda se você vê os premios literários, as nomeações, as ocupações de cargos culturais, tudo isso foi, mostra que naquele período as figuras importantes das letras não apenas não eram perseguidas, mas eram protegidas, não deixa de ser interessante ver que comparavam de a gravidade real dos acontecimentos com a sua repercussão na mente dos intelectuais esquerdistas, um caso que me chamou muito a atenção foi o do Otto Maria Carpo, porque numa série de cartas do Otto Maria Carpo que me foi entregue pelo seu amigo Pedro Trompovsky, que eu ainda pretendo publicar um dia, tanto o Carpo quanto a esposa dele Helena, descrevia uma vida deles como se estivesse revivendo a experiência do terceiro Reich, quer dizer com a casa cercada 24 horas por dia, uma opressão terrível, quando nós sabendo que nada nada nada disso aconteceu, a única coisa que houve com Carpo, ele foi indicado num processo e o próprio promotor pediu a suspensão do processo, depois houve um interrogatório de duas horas e foi mandado para casa e não aconteceu nada, o próprio promotor suspendeu o processo, quer dizer nada nada nada nada houve contra o Carpo, mas os dois ali em ele, a mulher estava em casa aterrorizada imaginando que estavam revivendo ali o terceiro Reich, quer dizer que estavam dois malucos evidentemente, o final da vida do Carpo, uma das coisas mais melancólicas que eu já vi, eu mesmo que vivia na atmosfera da intelectualidade esquerdista naquele tempo, eu tinha a impressão de estar vivendo no terceiro Reich, mas quando hoje eu revejo o que aconteceu realmente, foi um quase nada, o Brasil ao longo dos 20 anos de ditadura, ele teve aproximadamente 2 mil presos políticos no total, ao longo de 20 anos, e o que para um país de dimensões continentais é nada, porque Cuba tinha 100 mil prisioneiros políticos simultaneamente naquela época, estavam 100 mil presos ao mesmo tempo, e eu estou falando de 2 mil pessoas que foram presas ao longo, presas e soltas, presas e soltas ao longo de 20 anos, muitas vezes eram presas por algumas horas e soltas em seguida, eu mesmo fiquei, não no oficialmente preso, mas detido no quartel da Polícia Militar por 6 horas, e daí veio um sargento japones, me fez lá 2, 3 perguntas, eu estava aterrorizado, achando que ia dar lhe direto, campo de concentração, me fez duas perguntas, mandou para casa, certo? Então eu sei que para, a imaginação esquerda, isso é muito interessante, você retratar aquele período como sendo um período truculento, um período de perseguição avassaladora, mas é tudo imaginação, e sobretudo é tudo mentira, as coisas não tiveram essas proporções realmente, tá certo? Você vendo os dois livros do Cony e do Calado que saíram em 67, então são livros que não descrevem o período inteiro da ditadura, mas de certa maneira o antecipam, você vê ali o que a esquerda esperava, a esquerda esperava realmente uma espécie de terceiro raixe, ele estava imaginando isso, isso de fato não aconteceu, quer dizer, até 68, o número de prisões que houve foi ínfimo, tá certo? Foi 68 quando começa o negócio de terrorismo é que o governo decide criar um aparato de segurança capaz de reagir aquilo, então de fato ali começa para a Valeu, onde a censura, imprensa, prisões e etc, mas mesmo isso, somando tudo para um país de dimensão continental, que foi quase nada, né? Então o que eu vejo é que o reflexo da época na imaginação esquerda, isso foi monstruosamente exagerado, foi estérico, na verdade foi uma reação estérica que eu explico em parte, como um desejo mais ou menos inconsciente de exagerar o retrato do perigo, para atenuar a imagem de covardia daqueles que no dia 31 de março saíram correndo, saíram fugindo, se escondendo todo quanto é embaixado, sem que houvesse, na verdade, perigo nenhum, porque em 31 de março não foi dado nenhum tipo, o golpe foi inteiramente pacífico, mas não foi anunciado como tal no meio esquerdista, no meio esquerdista, foi anunciado como se fosse uma nova noite de São Bartolomeu, todos nós íamos morrer, então nós temos aí dois fatores, primeiro, que uma certa, vamos dizer que a repercussão da história daquele período na imagem, na imaginação esquerdista, acabou se cristalizando e foi consagrada como doutrina oficial, se espalhou por todos os livros de dáticos, e não só se consagou como versão oficial, mas como fundamento de leis que hoje em dênis, nas pessoas daquele período, quer dizer, não só virou doutrina oficial, mas virou doutrina oficial altamente rentável para toda aquela gente, porque tem milhares de pessoas vivendo daquilo, né? Quer dizer, eu mesmo poderia talvez pedir indenização, porque, afinal de contas, fui interrogado por um sargento japonês, a minha mulher foi presa, tinha um processo pela lei de segurança e tal, nós mesmo podíamos estar vivendo dessa comedeira hoje, mas, então, em primeiro lugar, houve essa cristalização, vamos dizer, do imaginário esquerdista, em segundo lugar, existe o fato de que esse imaginário não traduz a realidade, mas traduz, vamos dizer, uma ênfase fundada em motivos, vamos dizer, psicologicamente enganosos, quer dizer, no alto engano de uma geração que quis traçar uma imagem hipertrofiada dos perigos que acossaram, tá certo? Pra projetar uma imagem falsa de heroísmo, na verdade, não existiu heroísmo nenhum na guerrilha, não vejo necessidade, nenhuma de heroísmo para você esconder a bomba no aeroporto, nem para você atirar nas pessoas pelas costas, mas toda esta, vamos dizer, esta motivação de pura propaganda, isso aí consolidou, vamos dizer, todo um imaginário, esse imaginário, em seguida, se consagra como doutrina oficial e é repassado de uma maneira absolutamente, vamos dizer, invasivo e avassaladora através de televisão, jornais, filmes, programas de ensino, etc., etc., de modo que, pensa bem, o que que um escritor brasileiro criado dentro dessa mentalidade pode escrever, ele só pode repetir aquilo que já estava no livro do Calado e do Conee em 67, ou seja, não é possível explorar em profundidade a verdadeira experiência brasileira desses anos, isso quer dizer que foi o advento da nova república, da certe ascensão dos esquerdistas ao poder, e não é bem que seria ridículo datar isso aí da vitória do PT, porque quando vence o FHC, já é aquela intelectualidade de esquerdista ao poder, quer dizer, foi a USP que chegou ao poder ali, então justamente neste período, tem que ser saído do ar, eu estou vendo, mas, ah, tivemos aqui a impressão de que saiu do ar, mas parece que não, então é evidente que esta uniformização do imaginário e da uniformização da história nos últimos 30 ou 40 anos, ela seca totalmente a imaginação literária, então isso quer dizer que a literatura super-uniformativa simplesmente desapareceu, os únicos fenômenos notáveis que aconteceram, foram não dentro da referência, mas da poesia, a poesia já não tem que ser esse reflexo quase que imediato da história, ela opera numa outra clave, mais as duas contribuições maiores da poesia brasileira, vieram uma do exterior, que era do Bruno Tolentino, que viveu 30 anos na Inglaterra e era muito mais inglês do que brasileiro, quer dizer, está muito mais impregnado da influência cultural anglo-saxônica do que da brasileira e, por outro lado, o Albert da Cunha-Melo, que é um tipo totalmente isolado na província, que jamais foi falado em São Paulo no Rio de Janeiro, anuncia através do próprio Bruno Tolentino, que o descobriu e o tirou do Anonimato, e que é um sujeito que não vejo como vinculá-lo a nenhuma corrente ou tradição da cultura brasileira, um fenômeno totalmente isolado, foi isso que aconteceu. A arte do romance simplesmente morreu, ainda existe gente que menciona o livro do Falso Wolf, a mão esquerda que saiu em 1994, eu não li esse livro, o Carlos de Torconi fala muito bem do livro, mas teria sido, vamos dizer, uma espécie de canto de cisne e a exceção confirma regra, quer dizer, um livro, um romance notável que saísse num período de 30 anos, é a prova de que a coisa está mal parada. Se bem que eu não acredito muito nos elogios do que o Corny faz ao Falso Wolf, o Falso Wolf é notoriamente, vamos dizer, um plagiario, vigarista, então não é um sujeito pra gente levar muito a sério, se bem que eu não tendo o livro, eu não nego a priori que um plagiario safado possa ser, também tá certo, um bom escritor quando decide escrever com suas próprias palavras, tá certo? Também pelos artigos do Falso Wolf eu acho que ele não sabe nem escrever, ele não domina a expressão em língua portuguesa, de maneira alguma, escreve de maneira ginazena, mas para não dizer que estou jogando um livro que não li, estou esperando ainda chegar a tal da mão esquerda, mas mesmo que fosse um livro notabilício, tá certo? Seria uma exceção dentro desse panorama desértico da literatura brasileira, tá certo? No qual os dois grandes escritores que ocupam o espaço são Luiz Fernandes Veríssimo com as suas croniquinhas provincianas, tá certo? e sua propaganda anti-buche e própria ET, e o Paulo Coelho que escreve como um garoto de 12 anos, diz ele que ele escreve assim pra imitar a fala popular, bom mas quem imita um estilo, quem é capaz de imitar um estilo alheio é porque tem o seu próprio que é diferente daquele, como eu nunca vi o Paulo Coelho escrevei, se não nesse estilo eu caia entre nós e eu desconfio que ele não esteja imitando, eu desconfio que ele seja realmente um garoto de 12 anos, ele escreve muito mal, muito mal, eu nada tenho pessoalmente quanto Paulo Coelho, sou muito simpático, mas não se pode levar a sério, a literatura dele que é apenas vamos dizer, se você pegar todo aquele besterol do New Age, pra ser dos anos 60 e 70, ele simplesmente fez uma antologia do New Age e colocou aquilo em letra de forma, quer dizer, a literatura no Brasil acabou, olha, se acaba até a literatura de ficção que é uma faixa, um nível mais popular da alta cultura, você imagina então o restante, quer dizer, o mundo das ideias, da filosofia, da ciência humana, tudo isso, foi instrumentalizado de tal maneira pela casta governante que hoje em dia não é possível pensar nada fora daqueles elóganos e daquele conjunto de crenças mais ou menos poeiristas que no fim das contas são puras a propaganda eleitoral, ou seja, a ascensão da esquerda no Brasil teve como resultado a morte da cultura superior no país, eu creio que não há outro crime maior, se você somar tudo o que aconteceu de poeiro, narcotráfico, o Morde dos Céus Daniel, mensalão, etc, tudo isso é fichinha perto da morte da cultura nacional, porque se você mata a inteligência do povo, o resto de tudo pode acontecer, quer dizer, um povo que se torna incapaz de refletir sobre sua própria experiência, incapaz de dizer para si próprio o que está acontecendo, ele está acontentado a afundar na loucura e no crime, então, a causa de ordem cultural, ela em si mesmo não parece criminosa, mas ela é a mãe de todos os crimes, né? Então, eu estou dizendo isso porque você não pode querer, sei que é dentro dessa atmosfera que você vive, tá certo? E muitas pessoas ainda querendo sair disso, ainda querendo viver um passar para um outro tipo de experiência, elas por assim dizer, tem uma espécie de rabo preso existencial, eles participam dessa mentalidade e veem as coisas mais ou menos com a medida e com as proporções que esse tipo de cultura, quer dizer, da vulgaridade esquerda, impôs a todo país e que molda as consciências, né? Então, quando eu comecei a dar esse curso que eu emista na Galápia chamava a introdução da vida intelectual, um curso diretamente inspirado no título do livro do padre Serta e Anja, lá vi a intelectual, eu tinha a ideia de que eu estava tentando uma coisa mais ou menos impossível, que era restaurar para um certo grupo de pessoas a medida certa do que é a vida intelectual ou do que seria até vida acadêmica, porque embora o Brasil esteja lotado de universidade, eu digo, as pessoas não têm a menor ideia do que é estudo acadêmico lá dentro, não tem mesmo, mesmo, quer dizer, você não pode falar de estudo acadêmico no lugar de as pessoas simplesmente não leem livros. Note bem que uma vez dando um curso de pós-graduação para pessoas que vinham com diplomas de direito, diplomas de ciência social, diplomas de filosofia, etc, etc, eu disse para eles que imedia um estudioso acadêmico, ele para se manter mais ou menos a, a tona, para ele conseguir se manter atualizado com a sua área de estudo, ele precisaria ler pelo menos 80 livros por ano. Quando eu falei 80, houve uma epidemia de ataques apopléticos na plateia, as pessoas jamais tinham ouvido falar uma coisa dessa e não tinham a menor ideia disso. No Brasil uma pessoa que lê três livros por ano é contíssima, está certo? E é claro que, vamos dizer, os livros, os textos são o material, são o documento básico em todas as ciências humanas, assim como você não vai poder estudar fisiologia sem você jamais examinar um corpo humano, não é possível você estudar história, direita, ciência política, filosofia, sem você ter acesso ao material básico que está todinho documentado em texto, só não ser na hipótese remota de que você tenha sido de estimulho pessoal, está certo, dos ensinamentos de Platão, Aristóteles, da Gostinha, etc., etc. Vamos dizer, às vezes você tem a oportunidade de conviver com o filósofo, por exemplo, teve o Mário Ferreiro do Santo, viveu aí, teve muita gente conhecer, então às vezes você, na convivência direta com os livros, você absorva até mais do que através dos livros dele, né? Aqui o pessoal acabou de publicar um livro, Jody Cockerl e Barry Cooper, que são editores da série, das collected works, do Eric Fergling publicar agora um livro que chama, Fergling Recollected, quer dizer, Recordações do próprio Fergling, onde eles recolheram depoimentos de alunos e amigos do Vögan, que haviam convivido com ele ao longo de toda a sua carreira, e você vê como essa convivência pessoal pode ter sido importante para os caras, às vezes mais importante do que até do que a leitura dos livros dele, mas em geral, o material com que nós lidamos é quase todinho constituído de textos, está certo? Isso não quer dizer que a filosofia seja uma atividade enrolada, que se desenvolve em cima de textos, como dizia o Doutor Janot, os textos não são a matéria da filosofia, mas são o documento básico, como que ela lida, e mais ainda, em história, está certo? De que praticamente toda a atividade de pesquisa em ciências humanas, em direita, economia, etc., etc., é uma atividade historiador, você vai ter que sempre procurar, vamos dizer, as fontes primárias, etc., etc., quer dizer, a técnica básica da história tem que ser conhecida. Ora, essa técnica básica às vezes não é nem mesmo conhecida os estudantes de história, está certo? Então, e a noção, por exemplo, de documentos primários, de documentos de fontes primárias, é uma noção que na discussão pública brasileira já desapareceu por completo, como se vê nesse caso do Fora de São Paulo, que nós estamos em 2008 e ainda tem gente que discute se o Fora de São Paulo existe ou não, ou pelo menos se ele tem alguma importância ou não, se ele tem alguma atividade importante ou não, quando... Isto não é uma questão que possa ser discutida, porque, veja, num processo judicial, numa investigação policial, numa investigação histórica, ou simplesmente em qualquer discussão intelectual, que ser um pouco mais séria do que um bate-boca de bar, ou mais sério do que propaganda política, o documento de fontes primárias é autoridade absoluta, a hora que você mostrou o documento de fontes primárias acaba a discussão, quer dizer, não é que ele começa a discussão, você pode divergir com relação a interpretação de documentos, mas não a informação básica, está certo? Então, eu mesmo divulguei vários documentos de fontes primárias a respeito do Fora de São Paulo e a gente mostra esses documentos para as pessoas e elas ainda continuam com aquela hesitação que eu chamei da síndrome do Pilpil, quer dizer, será que eu vi um gatinho, será que não vi, o que mostra um estado de psicastemia gravíssima, então, qual estado já é efeito dessa mesma, dessa mesma decomposição intelectual que eu estou, que eu mencionei agora mesmo. Para quem hoje está observando a coisa do exterior, esse fenômeno é muito mais do que alarmante, ele é aterrorizante, porque isso nunca aconteceu na história do mundo, eu já procurei para ver se em outras épocas de guerra, de revolução, de crise, algum país passou por um rebaixamento de nível de consciência e esse ponto não encontra nada que se pareça. Quer dizer, quando você pegar para o Nileman, entre as duas guerras, houve um rebaixamento intelectual formidável, mas isso não afetava, vamos dizer, a nata intelectual, quer dizer, os intelectuais mais ativos estavam entendendo tudo o que acontecia, o que? A decadência existe ali, notavelmente, vamos dizer, na faixa, na classe letrada em geral, mas considerarmos no sentido quantitativo. Você vê, por exemplo, quando o Eric Vergeline, na conferência sobre Hitler os alemães, ele acusa a universidade alemã dos anos 30 de não ter sabido, reagiu o que estava acontecendo, porque ninguém enxergava, ninguém entendia, não percebia a gravidade dos acontecimentos, ele tem toda a razão, mas acontece que naquela mesma época já tinha muita gente dizendo a mesma coisa, numino, numino, tinha aquela figura extraordinária do Karl Kraus que estava entendendo tudo, explicando tudo, e tinha muita gente que entendia tudo e explicava tudo, e foram esses mesmo que depois, logo depois, quando se oficializam o estado de coisas, eles vão tudo para o exterior, e não vão para o exterior, de mãos a banan<|pt|><|transcribe|> deles, vão levando, vão ter uma carga de experiência de cultura formidável, com a qual vão fecundar várias culturas nacionais, como por exemplo, a cultura do Mércio, que é a doca cultura americana, quer dizer, os alemães que vieram para cá, dedero uma contribuição efetiva, no Brasil também deram, nós deram mordos nossos toradores literais, que é o carpo, saíam também nessa leva vindo da Áustria, então, você pode dizer que houve um rebaixamento do nível de consciência alemana entre as duas culturas, que é mais um rebaixamento da média, não dos intelectuais mais ativos, agora no Brasil não há reflexão em profundidade sobre as raízes da coisa, só eu estou fazendo, ninguém mais. Quando você vê algum, quando você vê a entrevista do António Torrezinho, ele está reclamando, não, agora nós estamos numa situação de qualquer momento, que tem falta de consciência de obrigação cultural, e olha que António Torrezinho escreveu muito bom, muitas vezes também eu vejo o João Baldo Ribeiro, de vez em quando ele também reclama do politicamente correto e tal, e no dia seguinte é assim, ele não manifesta em favor de Hugo Chaves, se bem que parece que ele diz que não tinha assinado nada, mas de qualquer maneira você não vê da parte de ninguém uma reflexão em profundidade, eu acho por exemplo, tudo isso que eu tenho escrito sobre o movimento revolucionário, esse deve ao fato de que existe um movimento revolucionário na América Latina, hoje mais intenso do que jamais houve, e você simplesmente não pode compreendê-lo sem você rastrear a sua raiz do movimento revolucionário mundial que remonta até o século 14, quer dizer você tentar saber da onde as coisas vêm, qual é a origem, e como essas correntes vão se evoluindo, é o meio de entender o que aconteceu, não tem o jeito de você entender um estado de coisa sem você saber da onde ele saiu, sem saber a sua história, eu não conheço ninguém que esteja preocupado com isso no Brasil, como se não estivesse acontecendo nada, ou se não houvesse nada a compreender, claro que está acontecendo muita coisa, é uma situação extremamente complexa e a quantidade de neurônios que seria preciso investir para entender a coisa é enorme, e no entanto não se vê nenhum, nenhum, nenhum esforço nesse sentido, ao contrário, às vezes se vê é um esforço ou de ocultar um problema, porque você é parte interessada, ou de fechar os olhos para ele porque você é vítima e você tem medo de saber o que está acontecendo, então uma espécie de conspiração entre o agressor e a vítima, o agressor quer se disfarçar para a vítima e a vítima também não quer, para ela perceber vai ficar com medo demais, então é um estado de inconsciência tão deplorável, tão miserável que a gente não sabe se esse rio se chora, quer dizer por um lado a coisa é muito triste, é para chorar, mas por outro lado é ridículo, é ridículo porque não tem nada mais grotesco do que a covardia intelectual, a covardia física a gente até entende, ninguém quer morrer, ninguém quer apanhar, então pode sair correndo, eu me lembro que eu fui educado para jamais correr e jamais correr, quando era moleque não, se tem que bater a gente tem que apanhar, a gente tem que apanhar, porque não, agora hoje em dia vamos no Brasil, regra número 1, correr, então correr nem precisa nem ter o problema, correr da visão do problema, correr da informação, tá certo, então quer dizer, dentro de uma coisa dessa, eu começo a pensar assim, mas qual poderia ser a minha função, a minha função deste curso no meio de tudo isso, olha eu não vejo outra saída, se não tentar vamos dizer isolar dessa decadência, isolar dessa degradação certo, número de pessoas, é certo, e treiná-las para que você tenha, vamos dizer, um elite intelectual, que pode ser preservada para daqui 20 ou 30 anos, tentar restaurar alguma coisa do que você sobra do Brasil, mas isso não quer dizer que eu possa fazer, realizar essa tarefa neste curso, esse é um curso, não era meu curso de palestras, e a gente não pode formar uma intelectualidade, na base de um curso de palestras, você precisa de seminários, você precisa de trabalho de clássico, você precisa de leitura sistemática, etc, essa coisa que tudo, nós não podemos fazer aqui, se a minha ideia de trazer um certo número de pessoas do Brasil para cá, para tentar fazer isso, é a única solução que eu vejo, se ainda for possível fazer algo, mas que a situação, já passou no Calamitoso, Calamitoso era 10 anos atrás, agora sim, agora estão lidando com o paciente terminal, então eu digo tudo isso para você terem ideia da gravidade da situação na qual vocês estão, está certo, e para alertar que se vocês quiserem sobreviver intelectualmente a isso, o esforço que vocês vão ter que fazer é muito maior do que imaginam no momento, por exemplo, a gente vê que uma regra básica, a ser adotada nos estúdios, por exemplo, de história da filosofia, história das ideias, é quando você pega um tema, você situa-lo historicamente, e você não apelar para ideias, conceitos ou termos que sejam externos, quer dizer, você não fazer analogias temporâneas, quer dizer, você não tentar explicar, por exemplo, é quando você está explicando as ideias de santa agustinho, você não apelar a termos que o próprio santa agustinho desconhecia, porque não existia no tempo dele, então você tentar entender as coisas como elas eram na realidade da situação, isso aqui é uma regra elementar, só que, por exemplo, para você poder discutir santa agustinho ou Platão, no santo agustinho ou Platão você precisa conhecê-los, isso é, você quer entender algo de Platão, vou dizer o que você precisa ler no mínimo, no mínimo você precisa ler de toda obra de Platão, isso é o mínimo, quer dizer, começa-se, você pode começar um curso sobre Platão para alunos que leram Platão inteiro, porque? porque eles têm o documento, e daí você, o professor vai fazer a sua atividade analítica explicativa em cima do documento, se não tem o documento, porra, não vamos fazer o que? aqui você quer que eu leio Platão e conto tudo para vocês, isso não vai funcionar, você vai compreendendo? então, mas quando você diz isso no Brasil as pessoas ficam assustadas, elas não querem isso, isso quer dizer que não entendem a vida intelectual, no sentido, eu não gosto dessa palavra, mas vocês vão entender o que eu quero dizer, no sentido profissional da coisa, eles só querem o amadorismo, querem ouvir falar, querem ter uma informação mais ou menos superficial, que possa alimentar as suas conversas em casa, conversa em botequinha, etc. etc. mas, mas pegar no pesado e fazer o que tem que fazer, ninguém quer, agora se você não faz isso, com relação aos pensadores antigos, a história etc. etc. como é que você vai fazer com relação a sua atualidade? porque na atualidade você não tem todos os documentos a disposição, você tem só um pedaço, e você vai ter que completar o resto com imaginação, por exemplo, eu comecei a ler os documentos do Foro e São Paulo, que já são calhamaça, a gente tinha juntado ali umas 400 páginas, só de atas das Assembleias e Grupos Trabalhos, umas 400 páginas, o José Carlos Graça Vágnia tinha muito mais, porque ele coletou um monte de notícias, ele tinha uma sala cheia de documentos, a respeito disso, né, é bom, lendo as atas você claramente percebia que além das atividades consagradas em alta, era absolutamente necessário que tivesse havido outras conversações e outras atividades, pura síndese extra, oficial, mas que talvez fosse a coisa mais importante, se você reúne uma centena de líderes políticos, tá certo, eles podem no final das suas discussões fazer uma declaração, mas não quer dizer que foi só isso que eles falaram, por exemplo, você não pode entender a atividade do Congresso Nacional, se você ler só as leis que foram votadas no final, ter uma atividade política propriamente dita, ela não é consignada em alta, tá certo, então bom, nós pegando as atas, nós temos que examinar aquilo e ver quais as atividades políticas que teriam que ter se desenvolvido necessariamente para que se pudesse chegar aquelas atas, isso tudo você tem que fazer por imaginação, então, pelo que foi consignado em alta, dá pra você conceber, vamos dizer, a intensidade da atividade política e das conversações extraoficial que houve, tá certo, agora, eu não tinha nenhuma prova disso, foi só anos depois que veio os dois discursos do Lulun que ele contou algo dessa atividade extraoficial e aí que nós vimos que aquilo era o centro da coisa, ele diz, por exemplo, toda mobilização do Forno de São Paulo para dar suporte ao Hugo Chávez no plebiscito, mobilização internacional, ele diz, foi isso que segurou o Hugo Chávez lá, ele fala, bom, então, a presença do Hugo Chávez no governo é um efeito do Forno de São Paulo, ele foi arquitetado dentro do Forno de São Paulo, isso não tá consignado em alta de maneira alguma, se não fosse o Lula da Acolhinha nos Dentes, nós até hoje estaríamos na conjetura, mas, olha, um historiador tem que ter essa capacidade a partir dos documentos oficiais, ele poder analisar e saber quais são as atividades não consignadas em alta que foram necessárias para chegar naquilo e poder tirar algumas conclusões, ele diz, eu não conheço uma pessoa no Brasil que consiga fazer isso, não tem mais ninguém, isso quer dizer que as coisas estão acontecendo e você não tem mais cérebros capaz de processar o que está acontecendo, então, para capacitar a pessoa para fazer isso, bom, já treiná-las nos procedimentos técnicos clássicos da ciência humana, da filosofia, etc, etc, etc, quem quer fazer isso? Olha, eu posso, por exemplo, analisar as, a parte não escrita do Forno de São Paulo, por quê? Porque eu fiquei rano, eu fiquei rano, eu estou me ensinando a parte não escrita da filosofia da Aristóteles, se você ler o meu livro, A Teoria dos Quadros Cursos, eu sei mais que a Teoria dos Quadros Cursos, é uma parte da filosofia da Aristóteles que não está escrita, em parte alguma das obras da Aristóteles, só que você analisando, você vê que para ele dizer as coisas que ele diz nos textos, ele teria necessariamente que ter pensado isso e mais aquilo e mais aquilo e mais aquilo e mais aquilo, e exatamente isso que eu fiz na Teoria dos Quadros Cursos, quer dizer, não é uma conjetura, é uma atividade puramente analítica, então assim como, por exemplo, se você, se um sujeito tem conta histórias de caçadas, tá certo? Bom, você sabe que ele tem cachorro, ele não precisa dizer isso, não é isso? E que você tem cachorro? Então ele sabe como treina um cachorro para a caçada, ele não precisa ter falado uma palavra sobre o cachorro, você sabe disso, não é isso? Pelo menos aqueles tipos de caça ou desfiúza o cachorro, não é isso? Então, para caçar pato voando você não precisa caçar o cachorro, você só para o cachorro e pôr buscar o pato, tá certo? Mas se você vai caçar uma onça, ninguém caça onça sem cachorro, então, mesmo que ele não tenha contado essa parte, você nem que poder adivinhar, do mesmo modo você lendo as obras de Platão e Aristóteles, você tem que poder adivinhar a parte não escrita, mas se você não ler o obra inteira, como é que você vai saber o que que não está escrito? Isso quer dizer que antes de eu poder me aventurar na teoria dos quatro discursos, eu tive que procurar aquilo em todos os textos de Aristóteles. Basta isso, não, porque pode ser que algum aluno, algum comentarista de Aristóteles tenha documentado isso, quer dizer, Aristóteles chegou efetivamente a ensinar isso, então se não está num texto direto, não está num documento de fonte primária, está num documento secundário, então você tem que ver toda a documentação primária e toda a documentação secundária, e você que você tem um lateral inteiro na mão, aí você pode analisar aquele conjunto para ver o que mais tem que ter acontecido ali sem ter sido registrado. Por ter feito isso com as obras de Aristóteles, eu sou capaz de fazer com as atas do Ford São Paulo, que são uma coisa muito mais simples. Agora, se as pessoas não têm treino para isso, elas ficam totalmente desamparadas. Elas não são capazes de distinguir entre o que que é uma análise e o que que é uma mera congeturação. Então quando você dá o resultado da sua análise, elas já quer uma congeturação, quer um palpite, quer uma opinião como outra qualquer, porque elas não têm ideia do que que é o trabalho científico realizado em cima dos textos. Então, hoje em dia simplesmente, não há no Brasil mais pessoas palificadas para isso. Eu não me considero o mais qualificado possível, eu acho que eu estou formidavelmente abaixo da situação. Com tudo que eu tenho feito, eu sou que mais tem feito no Brasil, eu acho que eu não tenho equipamento intelectual suficiente para lidar com essa situação, eu só tenho para lidar com um certo aspecto. Eu vejo as deficiencias enormes que houve na minha formação. Formação que foi adquirida não foi dada, ninguém de universidade me deu isso aí. A minha formação foi extorquida, foi roubada, eu tive que roubar, você está entendendo? Porque não havia em parte alguma, eu tive que ir, como eu disse, abrir espaço com o cotovelo. Eu tive que descobrir as coisas das quais ninguém sabia no Brasil. Então, eu agi, não como um menininho que entra na universidade e recebe, chega lá e encontra uma intelectualidade brilhante e disposta, prontinha para passar, generosamente tudo para ele, não tinha ninguém, só tinha alfabeto, vigarista. Então, o que eu tive que fazer? Eu tive que ir procurar diretamente nas fontes. Então, mas ainda, se eu sair isso do Brasil e eu estudar numa universidade do exterior, quem diz que eu ia obter isso? Podia ser que por sorte você caísse no ambiente, ele tem isso, mas quando você caísse em outro, não tem. Saí do Brasil para estudar no exterior, muita gente saiu. Até que o Cretindo, João Ricardo Moderna, foi estudar no Sorbonne, eu não tinha estudado na Sorbonne, no Louvain e não sabe de merda nenhuma, por que? Porque a grande época do ensino universitário europeu já tinha passado. Você não podia obter mais isso nas universidades europeias, você só podia obter nos livros, nos documentos que ficaram de uma outra fase. Então, o que eu fiz? Eu procurei quais é as fases melhores e quais são as instituições melhores e fui perguntar o que que se passava lá, para eu poder obter o modelo, dizer, como é que se faz, como é que se produz um verdadeiro estudioso acadêmico, como é que se produz um scholar? Quer dizer, eu fiz isso, agora, eu tive que fazer do meu jeito. Você vendo pessoas que obtiveram isso por meios mais fáceis em outras épocas, como por exemplo o próprio Erick Vergen, na reflexão autobiográfica, ou em parte o Carpo Conta, um pedacinho aqui, um pedacinho ali. Então, você tem ideia dos requisitos, do que é necessário para formar uma pessoa qualificada para atuar nas áreas de ciência humana. O que é ciência humana? Ciência humana é aquilo que estuda a vida humana, pode estudar o que está acontecendo. Então, para a realidade de uma situação política, só pode ser compreendida se você tiver os equipamentos intelectuais para isso e no Brasil ninguém mais tem e pior, ninguém quer adquirir e a maioria nem sequer suspeita da existência desse instrumento. O que eu estou dizendo aqui para a gente falar sobre documentos de fonte primária, como analisando os documentos de fonte primária e de fonte secundária, você tem que ser capaz de reconstruir mentalmente as condições que os geraram. Isso aqui é o mínimo que se espera de um estorador, por exemplo. Agora, sem isso, como você pode saber o que se passa? Por adivinhação? Não é impossível que saiba por adivinhação, mas não é o que geralmente acontece. Não se pode contar com isso. Então, dentro desse curso e de outras ocações onde eu tenho tido a oportunidade de falar, a gente lança insistentemente esse apelo. Você tem que estar consciente da imensa deficiência da sua formação, mas imensa, brutal. O mais inteligente, o mais culto aí no Brasil é um analfaberto perto de uma escola profissional. No Brasil não há mais escolas, simplesmente não tem. Quando tem, é alguém, um setor muito especializado que não tem importância. Nas grandes áreas de ciência humana, filosofia, ciência política, não tem mais ninguém. O que você ouve esses acadêmicos brasileiros falando do que está acontecendo é tão primário, tão ridículo, tão bocó, que a gente tem vontade de chorar. Ficam piedadas pessoas, entendeu? Ficam vontade de interná-las no hospital. Dá cuidados maternos para ela, como é a da mamadeira, trocar a fraudinha. Isso são todos sem exceção. Eu não estou exagerando, não. É de você comparar, por exemplo, comparar o que se discute no Brasil, as discussões públicas no Brasil, com aquilo que a gente vê, por exemplo, no Eric Weglind Foram, eles dizem, os caras estão tão abaixo, tão abaixo que eles não são capaz de imaginar o que se trata. Então, o quanto mais você vê a situação se complicar, os problemas se avolumarem, ao mesmo tempo você vê o cérebro ficando cada vez mais desarmados para lidar com aquilo, isso não pode ter um resultado bom. Quando você vê que ao longo dos últimos 30 anos, o outro dia saiu essa notícia, ao longo dos 30 anos houve um milhão de homicídios no Brasil, um milhão de homicídios ao longo de 30 anos. Meu filho, isso aí é dez vezes mais, está certo, do que a inquisição atoa em toda Europa ao longo de cinco séculos. E no Brasil tem jeito que está assustado com a inquisição. Às vezes não tem medida do que significa um milhão de homicídios. Como é que vocês têm a cara de pau de falar, por exemplo, da guerra do Iraque? No Brasil é muito mais perigoso do que o Iraque. Por exemplo, o meu filho aqui está pensando em entrar para esforçar o mar, todo mundo dá, mas ele começa a advertir, vocês vão te mandar para o Iraque, você vai estar muito mais seguro no Iraque do que no Rio de Janeiro. Nós vivemos 12 anos no Rio de Janeiro, está certo? Então, com a maior tranquilidade, manda o moleque para o Iraque, sabendo que ele vai voltar inteiro, agora você vai mandar por Rio, não sei. É a melhor questão do Estado, você fazer as contas. Então, como é que chega a este ponto? E você não tem uma cabeça capaz de analisar o que está acontecendo? Então, se você pegar toda a Universidade Brasileira, a explicação dos homicídios já está pronta com 30 anos de incidência. É causa da miséria, é causa pela sociedade de classes. Isso já dizia, antes da coisa ter acontecido, eles já tinham a fórmula pronta e essa fórmula que está sendo passada. E se você escreveu uma tese dizendo isso, eles premiam a sua tese e você pode até ganhar uma bolsa, um fellowship, uma coisa assim, está certo? Quer dizer, como é possível uma situação tão desesperadora que está sendo lidada com o tamanho da levendade? Então, as vezes eu me lembro, por que as pessoas veem no meu curso? Ela vê porque elas não aguentam mais este ambiente e querem uma coisa melhor. Eu disse, mas eu não posso ser o único fornecedor da coisa melhor. Isso aí é impossível. Não é possível que num país de 180 milhões de habitantes só tenha um respirador chamado Olavo de Carvalho. Isso é um absurdo. Quer dizer, eu não posso desempenhar essa função. Para vocês terem ideia do que eu estou fazendo? E de como essa situação me coloca a mim mesmo numa situação quase impossível? Eu estou escrevendo três artigos por semana, mais do que qualquer outro colunista brasileiro. Cada artigo come um dia de trabalho porque você tem que se informar, você tem que pensar um pouco e daí você escreve. Então, esses três artigos, o último vale por dois artigos porque é quase uma parte inteira do diário do comércio. Então, são quatro dias por semana para escrever artigos. Mais um dia para ler 70, 80 e meio selecionar uns 20, 10 ou 20 para poder comentar no programa Trolls Peak na segunda-feira. E no meio disso ainda fazer conferências, dar esta aula mensalmente e de vez em quando sair fazer uma conferência que não tem que ter americano, escrever alguma coisa para revista americano, agora estou fazendo um para revista inglês, o Celes Buller Review. Como é possível um sujeito? Só tem que fazer tudo isto. É porque ninguém mais está fazendo. Sem contar que ainda tem a orientação pessoal que a gente dá para centenas de pessoas que escrevem. E mais uma contribuição para o Mídia Sem Máscaras, para outros sites etc. Quer dizer, é claro que é uma situação anormal. Quer dizer, mas quando você pega, aí descobrirem, ah, existe um sujeito inteligente chamado Alá de Carvalho. O que nós vamos fazer com ele? Nós vamos massacrar-lo de trabalho para que ele tenha que produzir em quantidade e a qualidade para cada vez diminuir mais. Demana que inflacionem e gastam o sujeito. Quer dizer, então é o quê? A sociedade antropofágica brasileira faz com o sujeito de valor exatamente do contrário do que tem que fazer. Eles vão preservar o cara para que ele faça somente a parte mais elevada que os outros não podem fazer. Descrever atingos de jornalço contra o PT é qualquer um que pode escrever, porque precisa eu. É porque não tem mais ninguém sequer que entenda o PT. Para ficar contra uma coisa, agora você entendeu o que eles estão fazendo e é outra. De tudo o que se escreve contra o PT é de igual a 99% da besteira, baseada às vezes em uma visão totalmente falsa das coisas. Então, se não tem pessoas sequer para fazer análise política do acontecimento da semana, então você tem que chamar o Olavo de Carvalho para fazer. Daí a minha pergunta é para os meus alunos e vocês. Estão fazendo o quê? Alguns estão assistindo a aula há 10 anos. Então a pergunta é, você já terminou de ler as obras com plávia de Aristóteles? Você já sabe tudo o que está no Aristóteles? Você já tentou, por exemplo, pegar essa tese do Olavo de Carvalho sobre as quadras de escursos e conferir para ver as coisas que ele diz? Ele diz duas coisas. Primeiro, ele diz que a teoria dos quadros de escursos não está nas obras de Aristóteles fisicamente, não está nos textos. Segundo, que ela é exigida pela lógica dos textos. Eu gostaria imensamente que essa minha tese fosse conferida. Até se alguém dissesse, não, você está completamente errado. Eu nunca fizeram isso. Agora, se não faz isso, eu digo, como é que o conhecimento é progredir, meu saco? Por exemplo, nos parágrafos finais do livro Jardínas Aflições, eu dei uma interpretação da história americana e hoje eu sei que está totalmente errada. Não, ela não está totalmente errada. A parte que está escrita está certa, só faltava outra parte igual. Eu ali hipertrofiei a atuação do elemento maçônico na formação americana e esqueci completamente o elemento cristão que me parece. Pela imagem dos Estados Unidos que chegava na época década de 90, o Brasil parece inexistente. Depois que eu cheguei aqui, é que eu fui verificar e ver cada um daqueles maçôs era mais cristão, pelo menos com o bisbacedo. E a presença das ideias cristãs foi muito importante. Então vou até mostrar um livro pra vocês. Olha aqui, Benjamin Morris, The Christian Life and Character of the Civil Institutions of the United States. Esse é um livro publicado em 1880, qualquer coisa. É um clássico que estava mais ou menos desaparecido e que agora foi reditado graças à discussão que existe sobre o negócio de Estado e igreja aqui. Mas mesmo antes de sair isso, eu já tinha coletado uns 40 livros sobre isso. Livros dos quais no Brasil eu jamais teria a menor notícia. Olha, o meu livro foi publicado quando saiu a primeira edição, 98, 95. 95, 95, 12 anos. Não teve um neguinho no Brasil, um. Pra me dizer, olha lá, você esqueceu esse pedaço. Foi eu mesmo que tem que ler lá e descobrir que está faltando, que está... do jeito que eu coloquei, fica falso. Porque é metade da realidade colocada como se fosse toda. Quer dizer, eu mesmo tenho que fazer a crítica do meu livro, porque não tem ninguém capacitado pra fazer. É horrível isso aí, é? Eu não me incomodo quando me corri, e ao contrário, agradeço. Eu estou estudando um negócio, né? E tem outro que está... tem um pedaço lá que ele sabe mais e ele me corri e vai. Eu boto aquilo na próxima edição do livro. É o normal, é assim que eu conheço e me avança, boa. Ninguém é obrigado a saber tudo. Agora, no Brasil isso simplesmente não acontece. Porque as minhas aulas, meus livros, meus artigos, são consumidos como estímulos da vida intelectual, mas são consumidos como artigos de autoajuda, são consumidos como se fosse aspirina. Quer dizer, eu se joguei de pega aquilo pra ele se sentir melhor. Eu digo, só que daí, o seguinte, você está usando isso como aspirina, quer dizer, isso só vai fazer efeito momentâneo, você melhora um pouquinho essa semana, semana e semana que vem, você está ruim de novo e eu tenho que te dar outra dose. Isso me obriga a uma produção quantitativa inteiramente absurda. Isso só serve pra que eu me desgaste, que eu tenho que dizer mil vezes a mesma coisa, dá certo com variando um pouco a forma ou botando algum elemento novo, entendeu? Quando o certo, assim, você tem que pegar o que eu te disse e você tem que aprofundar aquilo, você tem que estudar por sua própria conta. Ao longo de todos esses anos que eu tenho dado a aula, eu só conheci duas ou três pessoas que fazem isso, quando eu encontro o neguinho que diz, ah, eu li os livros que você indicou, eu tenho um orgasmo, porque isso é uma coisa tão rara. Eu digo, se você não leu os livros que eu estou mencionando, acontece o seguinte, você não tem condição de discutir o que eu disse, porque eu disse uma coisa, quer dizer, uma tese que eu elaborei, em cima de documentos primários. Se você analisar os documentos, você pode ou confirmar o que eu disse, ou mostrar ali algum pedaço que eu não disse, ou pode completar o que eu disse. Agora, se você não fez nada disso, das duas, um, ou você confia em mim e simplesmente repete aquilo, ou você desconfia e sai me contestando e dizendo, bom, interestedajam você dizer Boie李, eu dic um vírgula de Окusus, porque ela me disse, ok, 22h quanto tempo eu vou lembrar. Aí que eu disse isso, você noi, eu Listen por isso, o que é isso,?​ que aí vamos terminar de falar? então porque eu falei o que...? Não é isso? Tem muitos sujeitos, olha, eu não tenho sábado para estudar esse negócio, eu quero ter informação, mas eu não quero aprofundar, mas eu quero ajudar de algum modo. Eu digo qual é a capacidade que você tem? Você tem capacidade de organização, você tem, se você é um bom fundraiser, então você monta uma organização, tá certo? E você vai levantar os fundos para poder continuar essa pesquisa. Uns anos atrás a gente fundou um negócio que chamava o Centro de Estudos Ibnu Caldum, Ibnu Caldum é um menágio ao grande historiador tunezino que foi o primeiro sujeito que conseguiu na análise histórica juntar simultaneamente todos os fatores, fatores espirituais, econômicos, sociológicos, ele conseguia sintetizar tudo isso, então falei, bom, é isso que nós estamos precisando para entender o que está acontecendo na América Latina. Então foi, fizemos uma reunião do outro, tinha uma pessoa que nos ajudou, a gente reunia 12 estudios, todo meio reunia, daí o que aconteceu? Acabou o dinheiro, acabou o dinheiro, e imediatamente tinha que aparecer o outro, acabou o dinheiro dele, eu vou juntar dinheiro aqui, vamos fazer isso aí, aquilo era o trabalho mais importante, está se desenvolvendo no Brasil, parou, porque acabou o dinheiro. Então aqui nos Estados Unidos você vê a multidão de organizadores, de fundraisers, de administradores que se mobilizam para possibilitar esse tipo de estudo, é uma multidão mesmo, agora no Brasil quando aparece um cara, já eu quero organizar um negócio, quero ajudar, o que que os outros faz com ele? Vir as coisas para ele dizer, você pegou a bagaça em sua cabeça, é assim que faz, então é por isso que não há mais condições para a vida intelectual no Brasil, e não há condições para a vida intelectual, não existe condição, se quer você acompanhar o que está acontecendo e manter a sua cabeça um pouquinho em cima, está certo, da água, está certo ou da merda, pode ser, consegui enxergar o que está acontecendo. Então a gente vendo isso a distância, quer dizer a distância não é tão grande assim, porque afinal de contas, está de fisicamente, mas 80% do que eu estou escrevendo é com relação ao Brasil, mas vendo isso a uma série de estes que estão citando condição de comparar, eu ver que o que falta no Brasil para a gente poder analisar situações de saber o que fazer, é 100%, falta tudo, falta os estudiosos, falta os organizadores, falta os fundraisers, falta tudo, tudo, tudo, tudo, não tem nada, mesmo porque quando as pessoas encaram essas coisas não encaram de uma maneira com aquela, duas coisas que o americano tem aqui que eu acho formidável, primeiro é assim, é a sinceridade do esforço, as pessoas querem mesmo que as coisas dêem certo, e segundo lugar, eles tem realmente o espírito prático, eles querem fazer as coisas da melhor maneira, e se você tem uma ideia e o outro dá uma ideia melhor, mas que depressa, o jeito pega a ideia melhor e faz, aqui eles gostam de boas ideias, você está entrando? Agora, no Brasil ninguém quer a boa ideia, a ideia dele, e se o Sr. Leite quer fazer a coisa de uma certa maneira, e você demonstra que existe uma maneira melhor, a pessoa se ofende profundamente, quer dizer, é um emocionalismo que vem junto com a baixa cultura e com a baixa consciência, é um emocionalismo, uma flor da pele, onde a pessoa se ofende uma coisa, eu não ver três brasileiros se reunir para fazer qualquer coisa que três dias depois não ter um para cada lado falando mal dos outros dois, isso significa assim, a falta de cultura, a baixa de consciência traz consigo neurose, traz doença mental porra, isso é uma outra coisa que eu tenho visto, a inteligência humana, ela é tão grande, ela é tão enorme, tão enorme, o Sr. humano é capaz de pensar noções como absoluto, como infinito, é capaz de pensar noções como inexistência, você pega o bicho mais inteligente que tem, vê se ele consegue pensar algo como inexistência, ele consegue pensar como possibilidade e possibilidade remota, nem o bicho pega isso, o bicho pega no máximo uma latência imediata, isso quer dizer que a inteligência transcende infinitamente o necessário para lidar com os problemas imediatos da vida, ora, mas se você tem essa capacidade e você não a desenvolve, ela não acaba por causa disso, ela continua lá, só que ela começa a funcionar ao contrário, começa a funcionar contra você, então ela vai criar o quê? Neuroose, psicose, terrores pânicos etc etc e sobretudo na situação atual, houve algum problema de transmissão aí, na situação atual onde a sociedade propicia um número imenso de pessoas muito mais do que elas necessitam para viver, a quase totalidade das pessoas também ainda tem miséria, tem pobreza, para a maioria das pessoas, inclusive no Brasil, a maioria tem mais do que necessita para viver, então isso quer dizer que os problemas práticos imediatos já estão resolvidos e não adianta você pensar mais neles porque não vai conseguir resolver mais, o que acontece? Começo a surgir necessidades inexistentes, necessidades e carencias e queixas inexistentes e as pessoas se tornam hipersensíveis e doloridas, por exemplo eu vendo isso acontece aqui também nos Estados Unidos, a gente vê, por um dos filmes americanos agora, assim, sempre que mora o amigo do mocinho, o mocinho pega o cadáver, olha e dá um grito assim, e eu nunca vi isso acontecer no cinema até 1950, ninguém gritava, aliás, na vida real, né, olha, morreu minha avó, não fiz isso, morreu meu pai, não fiz isso, morreu meu meu meu amigo que era o Dr. Miro, não fiz isso, jamais pensei pegar um cadáver e falei, isso significa que não que as pessoas tenham se tornado realmente assim, mas é que na imaginação do pessoal do cinema essa seria a reação normal, absoluta intolerância ao fenômeno morte, é claro que se você tem uma multidão de pessoas, tá certo, para as quais a noção mesmo de imortalidade é impensável, como é que essas pessoas que têm tantas coisas boas para desfrutar, como é que elas vão encarar a perspectiva da sua própria extinção, quando o de Alan disse assim, eu não posso morrer porque isso seria um grande atraso para a minha vida sexual, ele fez uma piada, mas essa piada é verdadeira, ou você tem meio de satisfazer o seu instinto sexual e a sua fantasia, você é como jamais calígula poderia ter imaginado, ou qualquer caixa de banco, caixa de banco em pregado doméstica, pode satisfazer todas suas fantasias sexuais e daí ele pensa, é, mas eu vou morrer, é absolutamente intolerável, é mesmo para gritar, quer dizer, criou uma geração de pessoas muito frágicas, muito bobocas, tá certo, e desse tipo de atmosfera vocês aí no Brasil já participam também, aqueles que moram em São Paulo, no Rio de Janeiro, na classe média, classe média para cima, todos já estão assim, vocês têm acesso a mais benefício e prazer do que a humanidade inteira imaginou, antigamente, né, e com tudo isso na mão, vocês sabem que vão morrer, então o que você tem que fazer, você tem que imaginar que a situação está pior, porque se você souber como ela está boa, você vai sofrer mais ainda, então você tem que ficar falando de miséria, pobreza, o tempo todo, para você imaginar que você tem algum problema que não é tão grave quanto a morte, agora, pessoas que se deixaram, vamos dizer, infectar por isso, elas estão inutilizadas para vir intelectuar, por que? Porque a relação básica delas com a realidade já está totalmente falseada, então a primeira coisa teria que, vamos dizer, antes de começar a vir intelectuar, tem que ter um espécie de psicoterapia para devolver o nego para a realidade, fala olha, a sua morte não é nem um pouco com o movimento, tá certo? E em segundo lugar, o número de satisfações que você está requerendo é muito maior do que você precisa, tá certo? E existem necessidades reais que você, pela sua condição de pessoa de classe média, você tem que atender, você não precisa mais correr através da sobrevivência, em terceiro, você foi dotado inteligência superior e se você não aplica nas coisas para as quais ela foi destinada, ela começa a criar fantasia, e começa, você imagina, quanta fantasia o sujeito pode fazer nesta situação onde ele está tendo uma vida relativamente prazerosa que ele não mereceu, que ele não fez nada para merecer e que vai acabar daqui a pouco, é horrível, é o inferno, se você está nessa perspectiva, você vai ter que, a gente vai ter que devolver você para a realidade, em segundo, você vai ter que fazer você entender que os seus problemas em grande parte derivam do fato de que você não atende ao chamado da sua inteligência superior, você quer viver, tá certo, como se fosse um bichinho, mas você não pode ser um bichinho, não tem mais jeito de transformar você em um bichinho, você não é inocente, você está sabendo tudo, tá certo, e do mesmo modo que a inteligência humana é capaz de lidar com as noções mais abstrata, universais, e transcendê infinitamente a inteligência animal, você imagina como é que fica um sujeito que tendo esta inteligência, ele ao mesmo tempo acredita que ele é um animal, e que só busca na vida os objetivos próprios de um animal, a desproporção é tão grande, mas tão grande, mas tão grande, tem que ficar louco, quer dizer, você nunca mais vai poder ser um bichinho, você vai ser um ser humano maluco, é isso, é o seu destino, tá certo, eu falei você que colheu, então, eu acho que com isso, como eu vou dizer, com este apelo aqui, a vida intelectual não vai poder até encerrar esta aula, porque não vai dar tempo de entrar em outro assunto, mas acho que isso aqui tinha que ser, mais dia menos dia isso, tinha que ser dito, então, muito obrigado.