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Então vamos lá, boa noite a todos, sejam bem-vindos. Vocês devem ter encontrado em um texto que eu preparei para esta aula, que eu vou aqui ler e acrescentar alguma coisa. Espero que todos tenham o texto na mão, ou na tela, e vamos lá. A ideia deste texto é o seguinte, toda a concepção da filosofia desenvolve-se naturalmente numa concepção da história da filosofia. Muitas delas foram desenvolvidas a partir de uma concepção da história da filosofia, ou seja, em modo inverso. Por exemplo, a de Hegel, toda a filosofia de Hegel é baseada numa interpretação que ele faz da história da filosofia, fundada sob um curso brilhante que ele deu sobre um longo curso de história da filosofia que foi inteiramente transcrita e publicada pelos seus alunos. Então, evidentemente, o mesmo acontece com a minha própria filosofia, que é que eu tenho a minha visão da história da filosofia, do que ela é, do que ela contribui e do que ela talvez deveria ser. E esta aqui é uma exposição. Esta concepção da história da filosofia foi só realizada muito parcialmente no curso que eu dei. Já faz tempo, eu dei esse curso acho que três vezes, uma vez em São Paulo, não, no Rio também, de uma vez em São Paulo, uma vez em São Paulo, uma vez no Rio e duas vezes no Paraná. Aquilo não realiza ainda o propósito que está aqui anunciado, mas um dia eu vou retrabalhar essa ideia e voltar a dar esse curso. Então, eu vou ler aqui. Em epígrafo, afrado Jacomarit, os professores são os maiores inimigos dos filósofos. O Brasil está pululando de professores de filosofia, como vocês sabem. Leandro Espírito, Marcejo Mortadella, outros. Quando você entra numa faculdade de filosofia, assiste a conferências ou programas de divulgação filosófica, ou simplesmente abre um manual popular de história da filosofia, logo toma conhecimento de personagens que são ali considerados os filósofos mais importantes. Por que são importantes? Por que, responde-se, exercer uma influência? Mas exercer influência sobre quem? Sobre pequenos círculos de pessoas dedicadas de corpo e alma, como eles próprios, a busca da verdade da sabedoria? Não. Exercer influência sobre a cultura inteira, sobre a sociedade, sobre a política, sobre as classes dominantes, sobre as massas, sobre o curso da história. Em suma, exercer influência sobre algo que se denomina a opinião pública. Mas espere um pouco. A opinião pública, a doxa, não era precisamente para os pais fundadores do pensamento filosófico ocidental. Aquilo que mais direto e radicalmente se opunha à filosofia, ao ponto de que esta se autodefinia pelo contraste com a doxa, pela busca de um saber epistêmico e apodíctico, racionalmente organizado e demonstravel, nos antípodas da mera opinião, do axismo, das crenças e hábitos dominantes da moda. E eu acho realmente espantoso que as pessoas não tenham feito esta pergunta ainda. Por exemplo, se você pega a coleção de livros que fez muito sucesso, os pensadores da editora Abril, organizado pelo falecido Zé Américo Motta Peçanha, você vai lá que ele tem a concepção dele e do grupo dele sobre quem eram os filósofos mais importantes. E nessa coleção você vê que todos os filósofos e colásticos merecem um voluminho de umas 200 párneis, ao passo que até economistas de segunda hora merecem vários volumes, é a concepção dele. E essa concepção evidentemente é baseada na ideia da importância histórica. Importância histórica, é aquilo que deixou o registro, foi difundido e influenciou, fez as cabeças das pessoas. Mas essa pergunta aqui, fez a cabeça de quem? Então, eu pergunto, isso não é... a Dóxia não é exatamente o que estava nas antípodas da filosofia? Comprovadamente sim, mil vezes sim. Só que as platões, só que insistem nisso. O que nos leva à conclusão inescapável de que aquilo que hoje se transmite e se impõe como filosofia importante, é a filosofia aprovada pela Dóxia. Que raio de marulheis. É... O que nos leva à conclusão inescapável de que aquilo que hoje se transmite e se impõe como filosofia importante, é a filosofia aprovada pela Dóxia, a filosofia dos não-filosofos, a filosofia da antifilosofia. Isso é norma geral em todo o mercado editorial, mas também na maior parte das universidades, para não falar da mídia. E quando você vê jornais que têm suplementos culturais, ou suplementos literários e você vê comentando a filosofia, são sempre exatamente os mesmos. Nietzsche, Wittgenstein, Foucault, etc. Aqui, os jornalistas consideram importantes por esta razão. São tão importantes que chegaram a influenciar pessoas que jamais leiam o livro de filosofia, como é o caso da maior parte dos jornalistas. Pior, o critério inteiro da importância histórica que elevam os filosofos ao supremo patamar da glória e condenam outros ao esquecimento baseia-se na visão que a Dóxia contemporânea tem do processo histórico como uma evolução ascendente predestinada a libertar o ser humano das trevas, da ignorância e da superstição, e preparar o advento do reino da razão e das luzes personificado por essa mesma Dóxa. Você vê que a coisa mais comum hoje em dia, que vai se tornando cada vez mais patente, é o tom que os formadores de opinião, sobretudo na mídia, mas também nas universidades, mas na mídia, na mídia e no show business, é patente, com o que essa gente se oferece como rugador de todas as coisas. Eles distinguem o certo e o derrado, o que é conveniente do inconveniente, o que é decente do indecente. Esses dias mesmo eu estava lendo aí um sujeito que escreveu ao respeito do Alan Bloom, um homem que escreveu o Declinamente Americano. Ele não alambrou, escreve livros que uma pessoa decente teria vergonha de escrever, é um julgamento moral, evidentemente, mas que pressupõe nesse dívida de ser falado, o que é decente? Decente é aquilo que se apresenta em público, sem necessidade de sentir vergonha. Então, se o negoci apresenta com porta-voz da decência, então certamente ele não está falando em nome próprio, não é uma opinião dele, quer dizer, todos nós, as pessoas decentes, as pessoas de bem, não suportamos isso. Quando você vai ver quantos são essas pessoas de bem, são dois ou três idiotas na redação, isso não passa disso. Mas de tanto falar no tom de quem representa uma vasta comunidade investida, da autoridade de julgar e separar o decente do indecente, o indivíduo acaba sendo aceito mesmo como o juiz supremo dessas coisas. E isso se tornou hábito geral na mídia e no show business praticamente em todo o acidente. Isso só não acontece, vou dizer, na Rússia, na China e no mundo islâmico. Então, essas mesmas pessoas, frequentemente eu uso a impressão, ah, esse sujeito passou da linha, quer dizer, que tem uma linha demarcatória das coisas que você pode falar, se você vai além disso, opa, ele infringiu. E esse julgamento é sempre unânime, em toda a mídia. E são essas mesmas pessoas que determinam então quem são os filósofos importantes e quem são os desimportantes. Só que a pergunta é, que autoridade eles têm para fazer isso? Que qualificações intelectuais eles têm para fazer isso? A história da filosofia, a cultura filosófica inteira que se transmite às plateias leigas, constitui assim uma poderosa máquina de autoconfirmação e consagração de tudo aquilo que Sócrates, Platão e Aristóteles voltaram suas costas para sair em busca de algo mais valioso e durador. É por isso que os melhores esforços de estudios eruditos para redescobrir tesouros escondidos, preenchendo as lacunas e corrigindo os falsos julgamentos da história vulgar da filosofia, permanecem circunscritos no âmbito acadêmico. Isto não são desprezados como meras excentricidades, sem exercer a menor influência sobre o que se ensina nas escolas, se divulga na mídia e se propaga no mercado editorial sob o nome de filosofia. Felizmente a Dóxa não é um bloco de coerência. A unanimidade hipnoticamente repetitiva da sua visão da história do pensamento só chega até mais ou menos o começo do século 19. Não que historicamente ela só tenha existido, contra a visão que hoje as pessoas têm, é unânime no que diz respeito a filosofia que existiu até o século 19, daí para dentro dos julgamentos Bipart. Daí por exemplo ela se Biparte, uma ala de evolução histórica como a preparação da democracia moderna. O reino da razão, da ciência e da liberdade, a outra entende essa democracia como um estágio apenas penúltimo, destinada a preparar o advento do socialismo, da sociedade sem classes por meio da práxia revolucionária. Então você vê que essas duas linhas, a liberal, a democrática e a socialista, compartilham da mesma visão historicista da coisa, quer dizer a história é uma linha ascendente que vai do pior para o melhor, do mais obscuro para o mais claro, do mais obtuso para o mais inteligente e assim por diante. O que é muito engraçado porque o sujeito que cada pessoa que nasce, ela nasce mais ou menos comemos queídas gerações anteriores, ele não nasce sabendo mais. Então, mas hoje em dia, as pessoas, pelo fato de terem nascido depois, acreditam que eles têm algo a mais, eles têm uma dose de lucidez que as gerações antigas não tenham, quer dizer, eles receberam a ciência e se infusam na mamadeira, por assim dizer. E a linguagem corrente apela a todo instante a estas imagens, a partir do passado de trevas e do advento das luzes da democracia. Só que o que é essa? Quem são essas luzes? Se pergunta para um liberal ou democrata, ele diz que é uma coisa, se pergunta para o socialista, ele diz que essa tal democracia que representa a liberdade, as luzes, etc., é ainda um capítulo do velho obscurantismo e que o socialismo é que vai ser a apoteose da inteligência, da liberdade, e do conhecimento. Ao passo que o liberal ou democrata responde que o socialismo é que é obscurantismo, etc., etc. Então ele vê o socialismo como um renascimento de antigas tendências bárbaras do ser humano, que já teriam sido superadas pela democracia. Cada um, ele diz, tem a sua parcela de razão. Se você perguntar assim, o que está mais na ponta, na vanguarda da história? Bom, sob certo aspecto um está, sob outro aspecto outro está. Mas o problema não é isso, o problema é que ambos concordam no essencial. A história é uma linha ascendente. Aspas. A filosofia da praxis escreve António Grampje, fundador do Partido Comunista Italiano. Ele sempre, em vez de marxismo, escreve a filosofia da praxis porque ele estava escrevendo na cadeia e ele achava que o carcerheiro não sabia que era a filosofia da praxis, então estava disfarçando pra caramba. A filosofia da praxis pressupõe todo um passado cultural. O renascimento, a reforma, a filosofia alemã e a revolução francesa, o calvinismo, a economia clássica, a inglesa, o liberalismo laico e o historicismo, que se encontra na base de toda a concepção moderna da vida. Isso diz António Grampje. Do mesmo modo, qualquer manual escolar de história nos Estados Unidos assinalará como precursores da democracia americana, Lutério e Calvino, John Locke, Montesquieu, Voltero, Illuminismo inteiro, Rousseau, a revolução francesa e a economia de Adam Smith. Quer dizer, esse passado histórico aí é unânime. Os precursores de um são os precursores de outro. A única diferença decisiva é que a concepção histórica da democracia para por aí, enquanto a dos marxistas anunciou o capítulo seguinte, que a democracia por sua vez enxergará como um perigo a ser evitado. Como bem viu o próprio Grampje, ambas essas visões, em disputa, comungam da perspectiva historicista, a redução da realidade ao processo histórico, do qual cada uma se anuncia como uma culminação perfeita, vendo no adversário um obstáculo a realização de tão maravilhoso objetivo. Não é à toa que os socialistas chamam seus concorrentes de reacionários e que o socialismo é roturado por esse de retrocesso. Quer dizer, qual é o grande pecado? O grande pecado é você pertencer a uma etapa anterior da história, em vez de pertencer à etapa atual que é a culminação ou a preparação imediata do ponto culminante. A história é a medida de todas as coisas, tudo vai sempre na direção do melhor e só não chega lá, porque alguém de má vontade le barra o caminho. Quem? O democrato ou o socialista? Essa brecha, na opinião bem pensante, clama por uma resposta do filósofo, que, fazendo o temporal abstração da escolha entre democracia e socialismo, pretende apenas manter-se fiel ao programa originário da filosofia. O problema é que se ambas as correntes do historicismo progressista creem no Império do Fato Consumado, porque isso é o fato consumado, quer dizer, o que veio depois aconteceu, e o que aconteceu é soberano. Então, as duas são adepto do fato consumado, baseando-se em ultimanais, no preceito de Hegel, de que todo o real é racional e vice-versa, nem o capitalismo, nem o socialismo são fatos consumados. Quer dizer, vem com a polícia do fato consumado, você quer dizer, mas o seu fato já se consumou, você já está realizado? Não, ambos vêm um futuro pela frente. Nos Estados Unidos, todo dia você vê anunciado alguma grande novidade que vai mudar tudo. Por exemplo, a tal da internet das coisas, então as máquinas vão se comunicar umas com as outras automaticamente, e isso vai criar um tremendo mercado, todo mundo vai ganhar dinheiro, vai ser um apoteós da felicidade universal. Ou então, a inteligência artificial robôs vão trabalhar no nosso lugar, nós vamos ficar jogando videogame o dia inteiro, participando de sexo grupal, jogando futebol, fazer qualquer coisa. Então, finalmente estaremos livres do ganhar asupão com o suor do teu rosto. Então, ambos, o socialismo por sua vez, apesar de já ter cem aninhos de idade, eles sempre ficam anunciando novas conquistas que viram pela frente, superando os horrores do capitalismo, etc. Então, ambos argumentam o que é o fato consumado, mas nem o meu fato consumado. Ambos são processos em curso que avançam, retrocedem e frequentemente se mesclaram ao ponto do indicer nível. Por isso você diz que o regime da China é socialista ou capitalista, dependendo da socialista observar o seu próprio capitalismo do outro, e o regime da Alemanha, mesmoíssima coisa, e o regime do Brasil, mesmoíssima coisa. Nenhum dos dois é real, ambos são potências em curso de realização. Portanto, nenhum deles pode legitimamente se proclamar à encarnação final da razão, nem muito menos entender o processo histórico como preparação do seu advento supostamente inevitável, porque esse também é outra tônica do discurso tanto democrato quanto socialista. Quer dizer, esse progresso que levará a esse patamar mais elevado da evolução humana é um curso inevitável. E ser inevitável dá para ser uma tremenda autoridade, porque o próprio porta-voz da coisa de ela não posso fazer nada, é inevitável, como se fosse a vontade divina. Na verdade, mais do que divina, porque Deus vê que não muda ideia, tem um negócio de lúvia, você fala, não quero mais assim, quero de outro jeito. E eles não, esse negócio deles é e tem que ser e está acabado. O que quer que esteja acontecendo? Tudo sempre poderia ter acontecido de maneira diferente se outras fossem as opiniões e outras as escolhas. A liberdade não cessa de existir só porque alguém abdicou de exercê-la. Quer dizer, tanto o argumento democrato, o argumento liberal quanto o argumento socialista, embora ambos falem em nome de uma tal liberdade, ambos negam a existência da liberdade, porque se ambos são inevitáveis, então nada podemos fazer. E se o curso inteiro da história é inevitável, o que que eu ali no meio, o cidadão comum, pode fazer para exercir sua liberdade? Já está tudo predeterminado. Não tem que ir para onde escapar, faça o que você quiser, vai vir o raio da democracia ou o raio do socialismo. Por isso mesmo, o filósofo tem o direito e o dever de colocar ao menos para si mesmo as seguintes perguntas. Primeira, a opinião majoritária dos círculos dominantes na sociedade tem as qualificações necessárias para julgar a história da filosofia e separar nela o importante do irrelevante, ou ao contrário, ela introduza aí um viés profundamente antifilosófico. Essa é a primeira pergunta. Se em vez de avaliar os filósofos pelo sucesso que tiveram perante a doxa, lhes permitíssemos falar por si mesmos e julgar seus colegas de outras épocas pela sua contribuição objetiva à própria filosofia, a aperfeição da consciência intelectual e ao amor da sabedoria, não obteríamos uma visão histórica da filosofia totalmente diferente daquela que hoje nos é imposta pelos bem-pensantes? Vamos ver. Se o critério é a importância histórica, a influência exercida sobre a sociedade, sobre a doctrine, sobre a opinião dominante, tem aí um certo núcleo de possibilidades da história da filosofia. Mas essa é a pergunta fo outra. Quer dizer, qual é a contribuição efetiva dos filósofos do passado para o desenvolvimento da consciência dos próprios filósofos? Evidentemente, o critério seria outro, porque muitos filósofos foram tremendamente influenciados por filósofos que, por sua vez, não influenciaram mais ninguém. Por exemplo, todo mundo já ouviu falar de Wittgenstein, mas a filosofia de Wittgenstein é quase uma cópia do que ele aprendeu com um sujeito chamado Fritz Malkner, que ninguém leu. É só para dar um exemplo. Então, todo mundo leu calmarcos, mas quanto leram Moses Heskey, botou a zidé na cabeça dele? E assim por diante. Pensadores que foram esquecidos e que nem entram na atual esfera de interesses dominantes não cresceriam em importância, enquanto outros, hoje coruados de prestígio, não seriam removidos para uma zona mais modesta, ou mesmo rejeitados para as trevas interiores como inimigos da filosofia amantes da doxa. Também, felizmente, é claro que o fenômeno acima do escrito afeta menos os filósofos propriamente ditos do que os principiantes e curiosos. Os filósofos continuam interpretando a história do pensamento como bem entendem. Muitos opõem-se abertamente ao progressivo historicista e não se inibem de promover a vontade, quantas descobertas e revisões lhes pareçam necessárias para corrigir a imagem deformada do passado e fazer justiça a pensadores e ideias importantes que o olhar público desprezou. Talvez o caso mais espetacular seja do professor Giovanni Reale, que reconstituindo por fontes diversas ou até entomítico ensinamento oral de Platão, modificou profundamente a imagem histórica do Platonismo. Quer dizer, até o Giovanni Reale acreditava-se que o essencial do Platão estava ali no livro da República e das Leis e, ponto, acabou. E o pessoal sempre ouvia dizer que havia um ensinamento oral do Platão, mas ninguém sabia o que era, então não era levado em conta. E o que ele fez? Ele pegou todas as fontes, toda a referência reconstituiu. O que o Platão ensinou para os seus alunos oralmente, sem escrever, deve ter sido mais ou menos isso, isso, assim, assim, assim, assim. Como, por exemplo, o nosso Mario Ferreira fez com Pitágoras, que ele disse, olha, eu não sei se isso é o Pitagorismo Histórico, mas se o Pitágoras não disse isso, deveria ter dito para ser coerente com outras coisas que ele disse. Erich Wöger reinterpretou todo o pensamento moderno como herança não declarada do antigo agnosticismo. Uma coisa que ninguém absolutamente tinha pensado antes. Quer dizer, que relação pode ter, por exemplo, a etrafilosofia de Hegel, Schelling, Karl Marx, e seitas agnósticas do começo da era cristã. Ninguém tinha estabelecido isso, até que o Erich Wöger descobre as obras do historiador chamado Ferdi Nandball, Christian Ferdi Nandball, que publicou no começo do século XIX uma história do agnosticismo, que já deixava clara esta ligação, esta continuidade do agnosticismo. Pierre Adou restaurou a noção grega da filosofia como regra de vida, que o Stébris Mentachadêmico havia desprezado em favor das abordagens puramente teoréticas. Ora, é um fato conhecido que, em toda a Grécia, a filosofia não era entendida só como uma disciplina científica, uma disciplina teorética, mas como um modo de vida, um estilo de vida, uma ética e até uma psicologia prática, uma autoajuda. Havia realmente isso, havia no Platonismo, como havia no Historicismo, como havia no Epicurino, todas as escolas tinham, ao lado dos seus ensinamentos teoréticos, uma disciplina para ajudar a formar o caráter do discípulo. E isso simplesmente na era moderna foi totalmente esquecido. Se você não curte de filosofia e diz, professor, tudo isso está ensinando muito bom, mas em que isso vai ajudar a minha vida? Ele vai dizer, então você vai procurar, é um curso de autoajuda, vai procurar aí a programação na linguística, vai falar com o Lair Ribeiro, vai falar com o Anthony Robbins, vai numa psicoterapia, ou seja, a filosofia não tem nada a ver com isso. Isso é assim, vamos dizer, pelo menos desde o século 18, em Descartes ainda havia um lado de ensinamento moral, um lado, por assim dizer, edificante na filosofia. Mas depois isso desaparece e sobra somente o lado teorético. Se você procura na filosofia de Hegel, a filosofia de Hegel não tem nada a ver com a alma do discípulo, o discípulo que se vire, entendeu? Ele está interessado na evolução da história, o espírito objetivo, que se revela, e ele não tem mais aquela atuação funda na esfera psicológica. E esse cidadão Pierre, de fato, não é só ele, ele fez um monte de discípulos que estão restaurando isso e criaram até, acabou virando o negócio que ele chama filosofia clínica. O filósofo que fica lá no Boteco, e as pessoas vão lá, levam os problemas para ele e dão uma solução filosófica. John Deely mostrou que toda a filosofia moderna enveredou por um erro que atrasou o seu desenvolvimento por três séculos. Ao escolher o idealismo subjetivo de Descartes, em vez da semiologia de John de Saint Thomas, John Ponceau, que resolvia antecipadamente as aporias da existência do mundo exterior, em que tantos filósofes debateram em vão. Eu mesmo expliquei isso aqui, umas aulas atrás. E guardados a devidas proporções, eu mesmo retirei do limbo do esquecimento um filósofo, cuja mera presença basta para reduzir proporções quase que de mitologia provínciana, tudo o que geralmente se entendia por pensamento brasileiro. De fato, se você pega a obra do Mario Ferreiro do Santos e compara com toda a produção escrita dos filósofos brasileiros desde Tobias Bardento e Farias Brito, até Marlene Achaui, comparado com o Mario, tudo isso é nada. E isso estava enterrado, eu conheci, eu fui lá, tirei, eu falei, olha isso aqui, que está enterrado aí, e você pensa que é o quê? Que é uma xícara, uma colherzinha, um tijolo quebrado? Eu falei, não, isso aqui é um edifício inteiro, é uma catedral. Foi como o Schlimmer, o nego que estava lá, acreditou que existia a Troia, ele ia deacreditou, como se fosse a narrativa histórica, e foi lá procurar. Ele encontrou, não uma Troia, encontrou sete, uma embalada outra, papapapapá, eu também, o Mario Ferreiro, ah, quando trouxe a lei do Mario Ferreiro, comecei a ler, foi o malu na minha Teresa, que não é uma pessoa de grande interesse filosófico, trouxe o livro, eu comecei a ler e falei, hoje esse cara é completamente louco, ele é um filósofo de dimensões monstruosas, e continuei lendo e vi que era realmente um dos grandes. Mas todos esses exemplos e outros similares só servem para ilustrar o abismo que se abre da filosofia dos filósofos e aquela que chegou ao grande público, e aos novos estudantes por meio da mídia e da rede de ensino. Quer dizer, os filósofos continuam, porque eles não aceitam passivamente essa ingenuidade do histórico progressista, que vê tudo como se fosse uma linha reta ascendente, não, eles sabem que não é assim, e por isso mesmo, eles não aceitam uma visão ingênua da história da filosofia. Então, eles se permitem buscar, escavar, mudar, para um outro exemplo, no século XVIII, existiu um cedado chamado Jean-Baptiste Vico, que era uma espécie de um professor de ginásio, semi-louco, ninguém levava o homem a sério, e no século XX, o Benedetto Crotting descobriu, falei isso aqui, é um tremendo filósofo, bom, daí tudo começou a ler Jean-Baptiste Vico, mas dois séculos depois. Então, essas restaurações redescobertas, elas acontecem, mas elas influenciam em nada ou em muito pouco a visão pública. Não acontecem de um desses filósofos escondidos, adquirindo de repente uma importância similar a Heidegger, mas eu, por exemplo, tenho certeza, eu li bastante Heidegger, e li bastante do Lilavel, e eu as fio, a obra inteira do Heidegger não vale, dá as linhas do Lilavel, o Lilavel pega o mesmo problema que o Heidegger resolve, e o Heidegger só fica enrolando, enrolando, enrolando, porque ele, tudo o que ele está fazendo, é para disfarçar, tudo aquilo é nazismo disfarçado, não é outra coisa. No começo disseram que a participação dele do nazismo foi apenas um oportunismo, um temporário, etc., mas depois começaram a publicar os diários dele e viram que o homem era nazista assim, de carteirinha e de coração. E daí, vemos o senhor chamado Bernardo Fé, que releu toda a filosofia do Heidegger, e diz que o Heidegger é a introdução do nazismo na filosofia. Ora, isso diminui o prestígio do Heidegger em nada, absolutamente. O pessoal continua babando, diando o Heidegger. Quer dizer, não adianta mostrar, falar, isso aí é uma falsidade tremenda, isso é uma deformação total do pensamento, não adianta, isso aí fica no círculo, vamos dizer, dos estudiosos mais profissionais, por assim dizer. E o grande público, ainda que alertado, e sobretudo os formadores de opinão, jornalistas, os tagarelas, etc., eles não vão reconhecer, falar, porra, caímos no Marapuca, Heidegger nos enganou, eles não vão fazer isso jamais, porque eles são infalíveis. Então, uma vez colocado no Heidegger, no Patamar, lá ele vai ficar. Todos esses exemplos só servem para mostrar o abismo que diz dentro da filosofia dos filósofes, é aquela que chega ao grande público. Por exemplo, o filósofo podi como Eric Vogelin, compreender que Jean Baudin foi um filósofo da política muito mais sensato e realista do que Maquiavel. Mas isso não impede com o autor do príncipe, seja ainda o guia preferencial de políticos, líderes empresarais, oficiais militares, e uma infinidade de formadores de opinão que não enxergam a comicidade intrínseca, de tomar como teórico do sucesso um sujeito que só cultivou o fracasso, e apostou sempre do Partido Perdedor. Se você lê o meu, Levine, eu sou Maquiavel, você diz, olha, sabe o que que Maquiavel entendia de política? Nada, nada. Ele é um fracasado ficar lá no canto dele sonhando, idealizando poderes satânicos, poderes satânicos que até o desprezavam. Ele apenas não puxa a saco do demônio, nada mais. Além disso, tem trechos inteiros do Maquiavel que mostram uma confusão mental que para mim está no nível do psicótico. Eu vi uma interpretação que ele faz de um trecho da Bíblia comparando então o governante com Nossa Senhora, ele faz uma meleca ali que é uma coisa impressionante. Esse cara não sabe o que está falando, ele parecia Dilma Rousseff. Mas por que essa idealização do Maquiavel? Porque ele exerce influência, então deve... Você vê o prestígio primeiro e você interpreta a filosofia do cara a luz do prestígio que você cuja imagem você já recebeu. Então é uma espécie de hipnose, isso deve ser muito bom porque é muito importante, não é que é importante porque é bom. Então a doxa é a primeira vítima das ilusões que ela mesmo inventa. Se em vez do critério da importância pública, que no fim das contas é mais válido para histórias de ideias, ou histórias mentalidades, do que para a história da filosofia, adotá-semos o do valor intrínseco, força inspiracional e aporte pedagógico, o que é que a história da filosofia seria que a própria história da filosofia, em vez da mera aquisição de conhecimentos tidos como necessário de exercista da filosofia, se tornaria uma meditação em profundidade sobre a contribuição do passado histórico e a formação da consciência do próprio filósofo. Muito bem. Então, existe essa disciplina, história das ideias e história da mentalidade. Essa disciplina que elas fazem é realmente, faz que é o estudo da história da opinião pública. É uma coisa completamente diferente da história da filosofia, embora o seu objeto material seja o mesmo, mas o objeto formal é diferente. Então, um quer pegar a história dos esforços sucessivos dos filósofos para descobrir e tal e as quais coisas, clarecer tais ou quais problemas. E também para encontrar uma regra de vida. E a outra, Nara, é a história das ideias dominantes. A história, por exemplo, é das modas intelectuais. Então, por exemplo, se você pegar o livro do James Billington, Fire in the Mind of Man, é a história das modas intelectuais que nasceram da mentalidade revolucionária. Tá muito bem isso aí. Isso quer dizer que na história das ideias, pensadores que não tem nenhuma importância, objetiva, real, própria, pensadores de 15º time podem se tornarem importantes. Então, hoje você vê, por exemplo, das histórias das ideias, fazer a história das ideias no Brasil, até ter um grosso capítulo dedicado aos três patetas. Leandro Espiritual, Mário Sergio Mortadella e Clóvis de Burdo. Por quê? Porque eles têm influência. Então, eles pertencem à história das ideias, pertencem à história da filosofia de jeito nenhum. Seria, não no sentido regueliano, porém mais no estilo de Louis Laval, uma história filosófica da filosofia, em que os lances da sucessão histórica se tornaria momentos da evolução interior do filósofo. Isso aqui é o ponto chave. Quando você lê um autor de séculos atrás, da antiguidade, você pode fazer esforços eruditos para você descobrir qual era exatamente a situação, qual era o público para que ele estava falando, quais eram as nuances de linguagem e reconstituir aquilo que Leopold von Röck, o fundador da história moderna, dizer a história como ela realmente aconteceu, aquilo que realmente se deu no campo dos fatos. Esse esforço é absolutamente necessário, por ele é sempre o tópico. Você jamais chegará a ler Platão ou Aristóteles, ou os pré-socráticos, ou Confúcio, ou Lao Tse, exatamente como eles foram lidos na sua própria época. Você pode formar uma imagem esquemática daquilo, mas você não vai se transportar para lá e ouvir, por exemplo, as conversações de socas como seus discípulos imediatos ouviram. Portanto, se nós... a realidade histórica da sucessiva sulofia é evanescente. Dia a dia ela se perde e tem que ser restaurada por novas pesquisas e você nunca chega. Isso acontece não só na história, ou na história literária, até hoje você não sabe se quem escreveu as peças de Shakespeare, foi Shakespeare ou outro cidadão também chamado Shakespeare. Então, existem inúmeros casos de obras cuja autoria nós não sabemos. Também existem casos de livros que circularam com o nome suposto, e que quando você descobre que é o nome suposto, você não sabe quem inventou aquilo e por quem inventou, em suma, o passado vai sendo perdido, mas tem algo que sobra. Se você lê, por exemplo, as sentenças de Heráctito ou de Parmenes, algo eles quiseram dizer. Eles disseram algo para os seus contemporâneos e, a quando você lê, eles dizem algo para nós agora. Este algo pode não coincidir exatamente com o que os seus primeiros leitores aprenderam ali, mas algum valor aquilo tem para mim. E isto é um dado líquido certo. Quer dizer, eu sei o que eu entendi de Platão ou de Parmenes ou de Heráctito, ou de qualquer outro, ou de Confúcio. Quer dizer, algum impacto eles tiveram sobre mim e alguma influência formativa exerceram. Então, isto quer dizer que a história inteira da filosofia pode se tornar para mim a história da minha própria consciência. Claro que não é a história inteira, porque além das influências filosóficas, eu recebi outros. Recebi influências do meu pai, da minha mãe, do Vigar da Paróquia, da primeira namorada, do primo, da vó, da tia. Mas recebi outras influências intelectuais também fora da filosofia, incluindo os livros de história e de história da filosofia que eu li. Mas uma parte importante, se você é um filósofo, então é evidente que a leitura dos filósofos teve uma influência predominante sobre a sua formação interior. E essa história é perfeitamente reconstituível. Nesse caso, a pessoa pode falar, ah, mas isso aí só tem importância autobiográfica. Falar, não, não, não, não, não, não. Por que eu digo isto? Porque ao definir a história da filosofia, como a busca da unidade do conhecimento, na unidade consciência e vice-versa, eu usei o seguinte critério. Eu procurei responder o seguinte, o que que todos os filósofos fizeram, independentemente do conteúdo das suas doutrinas, e independentemente da definição que eles davam da filosofia. O que eles tinham de fazer necessariamente para ser filósofos? Eu digo, é isto aquilo que eles faziam. Todos buscaram alguma unidade, coenência no conhecimento disponível e foram formando a sua consciência à medida que eu encontrando, ou se esforçando para captar essa unidade. E unificando a sua consciência, portanto, também a sua personalidade, a sua vida, o seu ser inteiro, a partir desse esforço. E isto é independente de eles serem, digamos, idealistas ou materialistas, cristãos ou anticristãos, o muçulmano, o judeu, o raio coparta. Ele tem que fazer isso, porque isto é a prática da filosofia, isto é o exercício da filosofia. O filósofo não faz outra coisa. E eu vi que todas as dificuldades de você definir a filosofia vinha do fato de que queriam defini-la pelos seus resultados finais, ou seja, pelas doutrinas. Mas essa doutrina é o que sobrou do filósofo, o que sobrou escrito do filósofo. Não é o que ele estava fazendo desde o início. Então, se você for comparar pelas doutrinas, pelas teorias que eles produziram, a filosofia se torna indefinível. Eu remeto de novo o famoso texto do Wolfgang Steigmüller, no livro Filosofia Contemporânea, onde ele vai mostrando a progressiva fragmentação do campo filosófico. Onde não apenas os filósofos divergem, mas eles já não sabem sobre o que estão divervindo. E o que um faz como filosofia é o que o outro considera uma anti-filosofia. E chega um ponto em que não pode mais haver sequer a oposição, porque as coisas são tão diferentes que elas não podem ser niveladas o suficiente para formar um confronto. E tudo isso acontece, só que todos esses caras estavam fazendo a mesma coisa, buscando unidade do conhecimento, unidade consciente e vice-versa. Todos eles. Então, a filosofia só pode ser definida por esse esforço. E esse esforço tem uma característica seguinte, ele nunca fica pronto. Ele tem que ser refeito de novo e de novo e de novo pelo simples fato de que existem novos conhecimentos todo o dia. Por isso, se você pensasse, o que... vamos pegar um grande filósofo, o que é que Edmondo Husser pensava dos bebês de Proveta? Ele não pensava nada, porque não existia bebês de Proveta. O que é que ele pensava dos robôs que eu não substituí o trabalho humano? Nada, porque não havia robôs capazes de existir. O que que ele pensava da bomba atômica e da destruição nuclear da União? Nada, porque isso não existia em 1910, 1915. Então, o conhecimento aumenta. O aumento constante da quantidade de conhecimentos disponíveis é uma das poucas constantes da história humana. Porque esses conhecimentos são registrados de algum modo. São registrados em blotecas, arquivos, CD, programas de computador, o que tem que ter. Monumentos, tudo isso está registrado. Claro que pode perder muita coisa, mas no essencial há um processo admitidamente acumulativo. Essa é uma das constantes assinaladas no livro The Main Springs of Civilization do Elzworth Huntington. Não é o Samuel Huntington, acho que era o avô, bisavô dele. Então, geógrafo. Eles existem poucas constantes na história humana, mas essa é uma dessas, o outro crescimento da população. Portanto, o aumento das relações entre várias regiões ou nações. Tudo isso são constantes. Então, a única maneira de definir a filosofia é pelo que ela faz. E o que ela faz tem de ser refeito permanentemente. E por isso o famoso problema, vamos dizer, da divergência entre os filósofos, que é uma discussão, como uma logomakia, uma luta entre discursos. Isso não é problema nenhum, porque o que importa não é o resultado daqueles que chegaram, mas o esforço que está sendo feito. Se esses foros fracassar, não tem importância porque todos fracassam. Você fazer filosofia, minha filha, é como você fazer a barba. Você vai ter que fazer de novo e de novo e de novo, ou tomar banho, ou fazer cocô. Não adianta o sergeu, eu já fiz ontem. Não adianta. Você vai ter que fazer de novo porque é uma atividade de manutenção. E a filosofia mantém a sanidade da inteligência humana. A unidade, portanto, a sanidade. Isso não é uma coisa que não se desaparece a filosofia. Então, os discursos todos se esfarelam. Que é uma coisa que hoje, inclusive, acontece. Hoje você vê, por exemplo, leis incoerentes, onde você é obrigado a fazer e não fazer. Isso acontece no Brasil, sobretudo. Eu já citei muitos casos em artigos. É uma falta, uma ausência do esforço filosófico. Não há pessoas que estão tentando unificar a experiência humana. Então, a unidade facilmente se perde e caiu na loucura total. Então, a filosofia é uma atividade eminentemente terapeutica da inteligência humana, da consciência intelectual humana. E por isso ela não vale pela doutrina que ela produziu, mas pelo modo como foi produzido. Então, entende? Quer dizer, quando você lê qualquer manó de filosofia, que diz, é impossível definir a filosofia no começo, é só pela sua prática que você vai adquirir. E fala, não, isso está errado. Ela é perfeitamente definível, desde que você defina por esse lado e não tentando ver o que há de comum entre doutrinas completamente dispares. Então, se você pegar, por exemplo, você pega Karl Marx ou Kirchgaard. O Kirchgaard estava tentando dar conta da sua experiência mais íntima, até episódios da vida dele, a noiva que rompeu com ele, até isso ele filosofa. O que é que isso tem a ver com o negro que está querendo mudar o mundo inteiro, criar o socialismo? Não tem nada que ver, não dá nem para comparar. Mas ambos estavam fazendo a mesma coisa, unificando o conhecimento na medida em que unificar sua consciência vice-versa. Então, se a filosofia é isso, então a história da filosofia só pode ter um sentido. À medida que você alê, você está aprendendo as várias técnicas de unificação do conhecimento e da consciência que foram sendo descobertas ou produzidas pelos sucessivos filósofos. E isso vai te ajudar a você fazer a unificação do seu próprio conhecimento, na sua própria consciência vice-versa. Então, o que seria uma história da filosofia? Voltada não a refletir a influência histórica geral, mas a refletir e se influir em influência que tiveram sobre você, que os filósofos tiveram sobre você e que podem ter sobre seus leitores também na medida em que eles se inspirem no seu exemplo, que está por sua vez inspirado dos exemplos anteriores. Então, entendo? Então, isso modifica muito o modo de você ler os filósofos. Você vai fazer a leitura historicista, vai ainda, você para entender o que Socra estava dizendo, Platão estava dizendo, você precisa de alguma referência da época, da cultura, você tem que ter. Mas não é esse o ponto de interesse, o ponto a seguir, o que que da experiência dele sobrou para mim? Eu posso, por exemplo, ler uma frase de Platão e entender ela de maneira totalmente diferente do que os discípulos de Platão entenderam e isso me fazia um bem danado. Quer dizer, ele me deu uma ideia que eu não tinha antes. Esse potencial de ser lido de novas maneiras, por novas pessoas, de inspirar novas ideias, todas as filosofias têm. Mesmo aquelas que você, vamos dizer, cúrrias conclusões você não pode acompanhar. Então, por exemplo, a ideia de Karl Marx, ele pensou assim, e se nós relacionarmos a evolução das ideias, o que estava acontecendo na esfera da economia, da produção e consumo. Ninguém tinha tido essa ideia antes. É uma ideia brilhante? É sim, porque alguma relação existe, não é aquele diz, mas que tem, tem. Então, se eu leio Karl Marx, isso eu posso aproveitar dele agora. E se eu vou ensinar Karl Marx, eu vou ensinar para as pessoas isso que ainda se aproveita de Karl Marx. E não o que foi efetivamente aproveitado historicamente por comunidades inteiras, pelo Partido Comunista, pelo monte de companheiros de viagem, etc. Isso quer dizer que você vai ler esses filósofos como se eles estivessem falando para você. Como se tivesse acabado de publicar os seus livros, de fazer os seus discursos agora. Claro que até para você poder pegar alguma referência histórica você vai ter que ter. Ela é indisplorada na evolução cultural, social, está importante também. Mas não é o foco do seu interesse. Isso quer dizer que você vai levar as ideias deles totalmente a sério. Você não vai distanciá-las num tempo histórico. Você vai parar com aquela bobarde que o homem é filho do seu tempo. Pelo menos me livre de ser filho desse tempo desgraçado. Eu não estou aqui não, mas eu estou lá no tempo dos colagens, estou com Platão Aristótico, Lao Tse, Confúcio. É lá que eu estou. Se você ver Santo Tomás de Aquino, de quem exerceu mais influência sobre Santo Tomás de Aquino, do que um filósofo que tinha moro em 1400 anos antes que foi Aristótico, ninguém. Mas ainda se você está na religião cristã, então ninguém te influencia mais do que Jesus Cristo, que passou aqui 2017 anos atrás. Então, esse negócio de filho do seu tempo é apenas um topo, um lugar comum, uma bobagem no fim das contas. Você reflete o seu tempo. Ele aparece em você de qualquer maneira, mas você não é filho dele, não. Então, uma história da filosofia baseada na ideia de não ser filhos do nosso tempo foi o que eu esbocei na história essencial da filosofia. Onde o que me interessava em cada filosofia é a verdade que ela pode me ensinar agora sobre mim mesmo e sobre o meu próprio processo cognitivo. Mas aquilo foi apenas um esboço. Eu estou dizendo isso porque não é para vocês assistir a história essencial da filosofia, mas qualquer conhecimento da história da filosofia que vocês adiquiram, não tem a adquirir neste sentido, na validade e valor presente que as filosofias do passado podem ter para vocês. Não tentem encaixá-los historicamente, sobretudo, não tentem encaixilhar-los historicamente. Não, isso era apenas a mentalidade daquele tempo. Na verdade, você não sabe de jeito isto. Qual foi a influência que o seu tempo teve sobre Heráculo e Parmenes? Não dá para você saber, mas você sabe o que eles estão dizendo para você agora. Então, esta é a minha concepção da história da filosofia que eu já tentei realizar algumas vezes, mas a qual ainda é aí de voltar um dia. Deu para entender? Então, por hoje é só. Quer saber o que mais? Não vou nem responder a pergunta, porque nós estamos cansados de carregar 10 mil livros, fazer estante, limpar a casa e dormir no escritório, porque não tinha aquecimento ainda dentro da parada. A casa só tinha no escritório e tinha que dormir no escritório. Estamos aqui uma semana sem tomar banho, porque não tem água quente e estão a um horror. Mas hoje acabou, instalaram a água quente e o aquecimento lá. Então, vamos voltar a condição humana depois de ter voltado a condição troglodita durante uma semana. Até a semana que vem, muito obrigado.