Então vamos lá, boa noite a todos, serão bem-vindos. Vocês viram a gente rindo aqui, que nem os loucos. A gente está rindo da última história do filho do Alessandro, chegou para a mãe e disse, mãe, Deus falou comigo hoje, quando eu estava na cama. O que ele falou? Ele está falando baixinho, eu não ouvi pedir para ele falar mais alto, mas o que ele falou? Ele disse assim, James, vai dormir. Então, bom, cumprindo o nosso programa que foi anunciado na última aula, com essas técnicas que eu juntei sobre o nome de Zetologia do grego Zetel, quer dizer buscar, eu queria começar com algumas considerações sobre a noção mesma da verdade. Todos nós acreditamos de algum modo estar na verdade, até o sético, quando diz que não existe verdade, nenhuma, ele acredita que isto é uma verdade. O que significa a noção de verdade é de algum modo compartilhada por todos os seres humanos, quer dizer, todo mundo tem alguma noção do que é verdade. E existem inúmeras trabalhos filosóficos clássicos sobre a noção da verdade. Em Aristóteles você encontra alguma coisa, em Santo Maidaquino, mais modernamente, Heidegger, Husserl. Mas eu acredito que todas essas investigações filosóficas, elas já partem de uma noção já muito trabalhada e consolidada. Difícilmente, ou nunca, na verdade nunca encontrei, ninguém que investigasse a verdade a partir da noção elementar da verdade na vida, por assim dizer, pré-filosófica. Quer dizer, o que que as pessoas querem dizer quando elas dizem que tal coisa é verdade ou não. E em que medida nós poderíamos nos guiar pela definição escolástica da verdade como a coincidência ou adequação entre o pensamento e a coisa, o pensamento e o fato. Eu acredito que quando os escolásticos enunciaram esta definição, não foi com o espírito de criar propriamente uma definição, mas apenas um critério de reconhecimento. Quer dizer, você reconhece a verdade quando você vê que o seu pensamento coincide com aquilo que a coisa está lhe informando de algum modo. Mas pode ser essa a definição da verdade, eu acho que não, porque os escolásticos eram todos autores católicos, certamente iam lido a Bíblia e ouviram Jesus Cristo dizer, eu sou o caminho, a verdade e a vida. Não é possível que a segunda pessoa da Santíssima, a trinidade, fosse apenas uma relação entre pensamento e coisa. Tem que ser algo mais. Mas por algum motivo, que eu não sei, não quiseram explorar esta via mais profundamente, pelo menos no discristo de ordem filosófica. A demarcação de uma linha estrita entre filosofia e teologia, que foi tão criticada pelo filósofo protestante Herman Doyle-Erd, ela de fato implica às vezes uma tomada de posição meramente convencional, que não vão transpor aqui esta fronteira. Mas essa fronteira é apenas disciplinar e convencional, não tem nada a ver com a estrutura da realidade. Na estrutura da realidade, a própria fronteira natural e sobrenatural é quase impossível de demarcar, de maneira que, pela simple razão de que o sobrenatural sendo onipresente, você não pode fixar uma fronteira, dizer, daqui ele não passa, daqui você tem a perfeita autonomia do natural. Tudo isso são noções absolutamente convencionais, que é se você define a natureza como um certo campo onde vigoram determinadas leis, nada prova que não haja outras leis interferindo ali sem que estas sejam por isso alteradas. A famosa noção de que, por exemplo, os milagres são coisas de causa sobrenatural. Para mim, essa é uma definição que não diz coisa nenhuma porque você não sabe quais são os limites da causalidade natural. Então, essa definição da verdade como adequação e pensamento e coisa é apenas um critério de reconhecimento. Alguns autores coláxicos esclarecem que é quando você percebe esta coincidência, esta harmonia de pensamento e coisa, de modo que a sua inteligência admite, aceita aquilo plenamente sem temor de errar. É de muito bem, então aí a verdade fica definida por uma sensação subjetiva que você tem. Se você não tem o temor de errar, acho que qualquer idiota quando diz uma idiotice em geral diz sem temor de errar. Então, isso, evidentemente, isso não basta. Eu não quero entrar aqui na investigação filosófica da verdade que pode ficar para mais tarde, ela é importante, mas pode ficar para mais tarde. O que me interessa é tentar situar o cidadão, aí o estudante, numa posição onde ele esteja em condição de buscar a verdade com mais possibilidade de acerto. Então, a primeira coisa que nós temos que admitir é o seguinte, embora a verdade possa ser reconhecida por esta coincidência entre pensamento e fato, ela não poderia estar no pensamento se não estivesse no próprio fato antes. Ou seja, na busca prática da verdade, todos os dias, a verdade dos fatos, dos acontecimentos, da nossa experiência, nós não podemos de maneira alguma seguir o critério de Aristóteles que a verdade só existe no ruízo, assim, em algo que a sua mente afirma a respeito da realidade. Nós temos que admitir que a verdade está na própria realidade, que é a realidade diz algo. Então, se você olha, por exemplo, uma paisagem ou uma fotografia de uma cidade, você vê que o número de informações que você recebe ali é ilimitado e inabarcado. Qual que é a situação? Você olha aqui a sala onde eu estou, e diz que estou recebendo tantas e tantas e tantas informações que eu não consigo nem sequer registrar todas. Isso quer dizer que existe uma desproporção, sempre uma desproporção, entre a verdade que está na realidade e a verdade que é captada pela sua mente, pelo ruízo. E isso é um dado fundamental. Isso quer dizer, nós não captamos a verdade, nós captamos verdades. A verdade, para nós, é inacessível pelo simples fato de que ela se identifica, não só com a totalidade da realidade cognosível, mas também com partes da realidade que não são incognosíveis para sempre. Tudo isso é verdade, quer dizer, aquilo que está além do horizonte, vamos dizer, você pegar o horizonte de consciência da humanidade inteira nesse momento, para ser certo. Ela tem um limite, evidentemente, ela é muito grande, mas tem um limite, e para além disso existe. Por exemplo, você vai ver mundos e mundos. Tudo isso é verdade. Então, a verdade está de certo modo instalada diante de nós e o que nós captamos dela é, em primeiro lugar, uma seleção, em segundo lugar, uma formalização. Se você olha, por exemplo, uma paisagem, você vê que a totalidade dela, evidentemente, ela tem uma forma em si mesma, mas essa forma total é inabarcavel, porque teria aqui, abrangê-la, cada folhinha, cada formiguinha, cada balançadinha que o vento deu em cada folha, e nós não podemos pensar tudo isso. Nós estamos vendo, mais sabe-me com o nosso, pensamento. Aquilo que nós representamos de nós, para nós mesmos, o que nós podemos dizer é, evidentemente, uma seleção e uma formalização. Isso quer dizer que a verdade nunca chega a ser uma coincidência total entre o pensamento e o fato, nunca. Ela é isso, vamos dizer, idealmente. No Mastro, você pode dizer que o seu pensamento não desmente o fato, ou não mutila o fato, mas não que ele o reproduza. Além de nós operamos uma seleção sobre os dados da realidade, nós operamos uma formalização. Aquilo que não tem forma não é pensável, não é representável para nós. No mínimo, você tem que fazer uma forma gráfica, para você dizer, ou uma forma sonora, uma sequência de sons, ou uma convergência de sons, que adquire um formato que seja reproductível, que você possa não só perceber, mas que você possa repensar aquilo. Você seleciona um conjunto, dá aquilo como uma forma. Essa forma não é totalmente inventada por você. Isso é muito importante. O negócio do canto, de que as nossas formas a priori, que determinam o conjunto daquilo que nós aprendemos, salta uma parte importante do raciocínio, que é de onde nós tiramos essas formas a priori. Cante da própria suposta que nós nascemos com ela, que são inatas, e isso não é verdade de maneira alguma. Por exemplo, a nossa noção de distância. A noção de distância não é uma coisa que possa estar no nosso cérebro, porque a distância não é entre pensamentos, mas é entre dados do mundo sensível. A nossa noção de distância é condicionada, em primeiro lugar, pelo nosso tamanho. Em segundo lugar, pela nossa capacidade de deslocamento no espaço. São dois dados externos. Então, se você dizer, o que que são dois quilômetros? Depende de dois quilômetros. Para mim, uma coisa, o boformiga, é outra coisa, para uma águia, é uma terceira coisa. E isso depende não do nosso aparado de percepção, mas da forma do nosso corpo, da forma da nossa presença no mundo físico. Então, quer dizer, que muitas das categorias a priori, elas não são tão a priori assim. Elas são a priori em relação às experiências seguintes, mas elas também foram adquiridas, de algum modo, da experiência. Não, de uma forma de uma apreensão consciente, quer dizer, que você, agora eu vou captar aqui a noção de distância do mundo exterior. Não, isso é tudo muito rápido e é um processo totalmente inconsciente. Tão inconsciente que, mais tarde, você pensa que esses dados são realmente a priori, quer dizer, que você nasceu sabendo aquilo. Eu não posso ter nascido com a noção de distância, porque? Porque eu creço, meu Deus do céu. E a medida que eu cresço, as distâncias são menores para mim. Acho que todo mundo já teve essa experiência depois de grande voltar à casa paterna e você fica que aquela casa era muito menor do que ele parecia. Todo mundo tem essa experiência. Então, quer dizer, a nossa noção de distância é uma proporcionalidade, evidentemente. E a proporcionalidade depende do tamanho do sujeito cognoscente e também da sua capacidade de deslocamento. De você pensar assim, o que são 10 quilômetros para um viado, tá certo? E para um bicho preguiça. Certamente não é a mesma distância. Para um bicho preguiça, 10 quilômetros é por cima do infinito. Então, se um viado não dá 10 quilômetros, não é nada. Então, outra coisa que também não pode ser a priori são as direções do espaço, que você aprende na medida que você tenta ficar de pé, tenta se deslocar, então você percebe que existem, para assim dizer, distâncias máximas. A frente e atrás, direita esquerda, em cima e embaixo. Algumas das quais são absolutamente inacessíveis. Você pode ir para frente, você nunca vai chegar no fim do caminho, também a direita esquerda, em cima e embaixo, muito mais ainda. Então, tudo isso são formas do universo que se implantam em nós, que não são impostas pela situação real que nós estamos. E essas figuras básicas, essas formas básicas são aquelas com as quais nós vamos me dir e representar todo o resto. Isso quer dizer que quando percebemos qualquer coisa, nós estamos sempre comparando algo com essas formas básicas, que são as primeiras que se imprimiram em nós. Distância, peso, tamanho, etc. Então, de cara, nós percebemos que tudo é verdade, é uma comparação. Diz o máximo que nós podemos pegar. E essas comparações podem ser mais adequadas ou menos adequadas. Você imagina a multidão de percepções que você já teve, que já se impregnaram na sua mente, desde que você nasceu, e as próximas que você vai ter. Então, a possibilidade de confusões é enorme. Só que um dia você percebe o seguinte, independentemente das formas que eu tenha já dominado, armazenado e que eu consigo manejar, as coisas têm suas próprias formas. E nem todas as que eu possa projetar sobre elas são adequadas. Algumas são próprias daquela coisa. Claro que eu não vou esgotar jamais nenhum objeto. Eu estou olhando aqui uma mesa. Eu nunca vou poder olhar essa mesa por todos os lados ao mesmo tempo. Mas eu sei que ela tem todos os lados ao mesmo tempo. Ela não vai criando novos lados à medida que eu vou circulando em volta dela. Então, eu estou fundindo, por assim dizer, uma parte que eu percebo atualmente, neste momento que está acessível a mim, com outras que são meramente potenciais para mim, mas que para a mesa não são potenciais. O outro lado da mesa, para mim, é uma mera potencialidade. Quer dizer, algo que eu poderei ver se eu circular a mesa. Mas eu sei que seria impossível uma mesa que fosse criando os seus vários lados sucessivamente à medida que um ser humano acercunda. Isso não é possível. Então, admitir essa distância, essa contradição entre o meu modo de percepção e a estrutura do próprio objeto, isto é uma das condições básicas da busca de qualquer verdade. Então, isto quer dizer que aquilo que você desconhece faz parte da verdade que você está buscando. Uma parte você vai conhecer e outra parte você vai permanecer eternamente incognoscível, mas presente. Então, esta presença do incognoscível é um dado básico da busca da verdade. Se você não se lembra disso, está certo? Então, toda a sua busca da verdade vai estar falseada desde o início. Então, por exemplo, eu lembrei na última aula aquele negócio do McRannie, David McRannie, que dizia que a maior parte das suas memórias são puras invenções. Isso quer dizer que elas serão falsidades? É claro que não. Porque o conjunto das percepções que você teve em qualquer situação, qualquer situação que você tenha vivido é ilimitado e inabarcável. Você não pode conservar tudo isso na memória. Você tem que reduzir, condensar e dar uma forma. Então, ela é ficcional por causa disso. Então, isso quer dizer que só aquela ficção que você inventou pode dar conta da memória efetiva. Se fosse uma memória literal com todos os detalhes, seria inabarcável e você não conseguiria recordar a coisa nenhuma. Então, isso quer dizer que este lado ficcional da memória, que a Aristótia já havia destacado, porque a fantasia, a memória para eles são a mesma coisa. Então, o que é uma memória adequada? É uma fantasia que a sua mente cria, partindo de alguns dados, que você combinou de uma maneira adequada à situação. Não é um traslado literal. Nada do que nós pensamos é um traslado literal e não precisa ser. Por que que não precisa ser? Porque é o seguinte, nós estamos todos no mesmo mundo e o tempo todo estamos nos referindo a este mundo que é acessível a todos. Isso aí é uma das tese fundamentais de tudo que eu penso, que é o mundo amediador de toda a linguagem. A linguagem nunca é um sistema fechado, nunca é um sistema completo. E tudo o que nós dizemos se refere a um mundo que está presente para todos nós e ao qual também nós todos estamos presentes e que, portanto, ele cola as várias comunicações que nós fazemos. Então, é por isso que essas comunicações não precisam ser completas. Por exemplo, se eu digo uma palavra qualquer, a palavra cachorro, você sabe que é um cachorro. Então isso quer dizer que a minha comunicação não precisa conter todas as informações sobre o cachorro, você as completa, nós estamos no mesmo mundo, onde também existem os cachorros. Isso quer dizer que a verdade está sempre presente na realidade, mas essa verdade da realidade é infinita e inabarcavel. Nós captamos aspectos, está certo? E a verdade como tal está presente a nós sob a forma daquilo que eu chamei o conhecimento por presença. E só assim, a verdade como tal jamais é objeto de pensamento. Se a verdade como tal fosse o objeto de pensamento, ela seria apenas um conteúdo da sua consciência. Então ela deixaria de ser a verdade da realidade para ser apenas a verdade do seu pensamento e seria autocontraditório. Então isso quer dizer, nós só pensamos verdades e nós referimos essa verdade a um fundo ilimitado e incognoscível ao qual estamos todos presentes e que está presente a todos nós. Então é por isso que eu digo que a verdade é um domínio no qual você está. A verdade não pode ser compreendida só como um conteúdo de pensamento. Se você dizer a verdade é adequação de pensamento e a coisa. O pensamento está na minha mente, onde está a coisa? Está nas minhas percepções. Então daí você entrará na objeção de David Hume, que tudo que nós conhecemos são nossos pensamentos, as imagens que nós temos também são nossos pensamentos, são estados de consciência etc etc. E isso não é assim simplesmente porque o mundo que está diante de nós ele não é pensável como tal. Ele é perceptível mas não é pensável. Se eu pegar só isso que eu estou vendo aqui dentro dessa sala que é um ambiente bastante limitado, eu não conseguiria pensar todos os detalhes que eu estou vendo agora. Então entra a percepção e o pensamento você já tem um abismo. Quer dizer aquilo que você percebe, aquilo que você conserva na memória e daquilo que você conserva na memória o quanto você consegue dizer para você mesmo. Ele tem uma série de reduções. E justamente esta redução é que me informa que os objetos da minha percepção não são estados de consciência meus. Todos os meus estados de consciência são limitados. Agora o mundo que está presente de mim não é limitado. Ele o tempo todo pode trazer novas informações que para mim são absolutamente inabarcavels. E justamente o reconhecimento deste inabarcavel é o que me orienta para o fato de que eu estou num mundo e não o mundo está dentro da minha cabeça. Então eu acho que a primeira dificuldade que existe na busca de verdade é o seguinte, as pessoas querem realmente a verdade. Vê, você querer a verdade é você querer algo que está para além do seu conhecimento, algo que você não tem, mas da qual você sabe alguma coisa. Então esta tensão entre o conhecido e o desconhecido faz parte da estrutura da verdade mesmo, de qualquer verdade. Por mais modesta que seja. Mesmo que seja uma verdade puramente mental, por exemplo, uma verdade puramente lógica, tipo a igual a a. Diu muito bem, você quando você pensa a igual a a, você pensa o princípio de identidade, você está pensando todas as implicações deste princípio ou não. Você está pensando só a fórmula abstrata, mas você sabe que por trás da fórmula abstrata você tem consequências e mais consequências que também são inabarcavels. Quer dizer, mesmo a verdade puramente mental é inabarcavel e nós só a conhecemos por pedaços. E esses pedaços se tornam compreensíveis para nós, porque nós referimos a presença do mundo. Sem isso, nada seria possível. Então o exercício para a busca da verdade é muito simples, é você tentar reconstruir alguma verdade muito modesta, muito acessível com o máximo de desastidão que você puder. Por que aconteceu em tal momento da minha vida? Ou quando me disseram isso ou aquilo, o que que eu senti exatamente? Você dizer o nome do sentimento não basta, porque o sentimento aparece em nós, também como espécie de discurso interior, ele diz alguma coisa. Então o que seu sentimento dizia exatamente? Se você não fizer esse tipo de exercício muitas e muitas vezes, você não só nunca encontrará o caminho da busca da verdade, mas você também não encontrará o caminho da expressão verbal correta, que é o problema fundamental. Eu vejo que no Brasil este se tornou um dos maiores obstáculos da vida intelectual, que é o problema da propriedade da língua. Quer dizer, a busca do termo próprio, quer dizer, o termo que diz exatamente aquilo que vocês querem dizer e que, portanto, torna aquilo imediatamente reconhecível pelo seu ouvinte ou leitor, isso deve ser uma preocupação de um escritor em cada linha que ele escreva. Se você é apenas um jornalista ou se você está escrevendo em academia, não precisa se preocupar tanto com isso, porque você está usando uma linguagem convencional e as possibilidades da linguagem convencional estão limitadas por aquilo que a própria convenção determina. Só pode dizer certas coisas que, de certo modo, já foram ditas. E que são, por assim dizer, imediatamente reconhecíveis sem referência ao seu objeto. Por exemplo, se você diz, usa a expressão de direitos humanos, que é a expressão que a toda hora aparece nos jornais, bom, todo mundo entende o que você está querendo dizer, sem precisar se perguntar o que são exatamente direitos humanos e eles existem efetivamente, ou não. Você supõe que direito humano seja algo que deve ser garantido a todos os seres humanos, pelo simples fato de existirem. Então, hoje mesmo eu coloquei uma nota no Facebook dizendo que isso é impossível. Se você disser, portanto, todo ser humano, pelo simples fato de ele existir, ele tem direito à moradia, educação, saúde, etc., etc., etc., você está falando a coisa inteiramente absurda. Porque dar isso a todas as pessoas é uma meta ideal que você tem. A meta ideal não pode ser isso de fonte de um direito. Quer dizer, eu sou obrigado a dar o sujeito hoje uma coisa que eu só posso fazer no futuro. Totalmente autocontradiutor. Por exemplo, se todo mundo conhece um dos princípios do direito, que é a de impossibilidade nem o tenetor, ninguém é obrigado ao impossível. Então, se não há recursos para dar isso a todas as pessoas, então você proclamar isso no direito é você obrigar todas as pessoas ao impossível. Então, quer dizer que uma lei que prescriva isso é inválida na sua própria raiz. Mas, quando as pessoas falam essas coisas que são expressões sem conteúdo, mas associadas a um valor emocional, com valor ético, qualquer, isso é linguagem jornalística. Não tem nada a ver com a atividade de um escritor que pretende dizer algo da realidade. E eu vejo que por uma espécie de impregnação da linguagem jornalística, já carregada de preconceitos ideológicos e agendas politicamente corretas, etc., em parte por causa disso, em parte por simples ineptia dos professores, a ideia da propriedade vocabular se perdeu no Brasil completamente, inclusive entre os melhores. Quando eu falo os melhores, eu vejo esse pessoal que está aparecendo agora, que está escrevendo livros, como Carl-Lenor Vocarro, Martinho Vásquez da Cunha, Bruno Gashagen, são pessoas de óbvio talento, nenhum deles tem a menor noção de propriedade vocabular. Não tem mesmo. Isso é muito grave. Então, por exemplo, eu estou lendo o livro do Martinho Vásquez da Cunha, A Pugueira da Glória, é um livro notável de erudição, ele é um montão de livros e conhece, é uma história da literatura brasileira, uma espécie de história crítica da literatura brasileira, porque tem um conhecimento enorme da literatura brasileira, mas ele consegue escrever coisas do seguinte teor, falando de tal, foi um membro da Intentona. O que é uma Intentona? É uma revolução. Portanto, é uma ação, uma ação não tem membro, meu filho, só o que tem membro são entidades ou instituições, uma ação tem participantes, não tem membros. E assim coisa desse tipo, você vê de monte nos livros desses pessoal. Então, significa o seguinte, eles não têm uma consciência literária muito desenvolvida. Como é que se desenvolva uma consciência literária? Eu vou pegar um exemplo, eu acho que o autor de maior consciência literária que existiu no Brasil na segunda metade do século XX pra diante foi o Herbert Sales. Como é que o Herbert Sales começou a carreira dele? Ele começou ainda uma certa região do estado dele, a Bahia, e anotando no papel os termos do vocabulário local de uma região onde existia intensa atividade de mineração. Eu pego todo o vocabulário dos mineiros, são milhares de palavras, e eu escrevei um livro inteiro nessa linguagem, o que se chama Cascalho. Depois, nas edições seguintes, cada edição o Herbert colocava novas palavras, corrigia outras porque não estavam boas. É assim que se faz, gente. Se você tem algo a dizer e você quer dizer em qualquer linguagem do momento, você usa a linguagem jornalística, ou a linguagem do rádio, ou o que você quiser, ou usa o Akademist, que é uma linguagem estabilizada, ou menos simples de dominar. Mas, se você quer dizer algo da realidade, você tem que ser um escritor, e o escritor é marcado pela sua consciência literária. E a consciência literária significa exatamente se ela se resume praticamente na busca do termo próprio. Eu sei, você pode dizer uma coisa de maneira vaga e genérica, de maneira alusiva, de maneira metafórica, ou você pode dizer exatamente o que foi. Então, um conselho geral que vale para todos os escritores é o seguinte, ao termo geral prefira o termo próprio, quer dizer, aquele termo que se aproxima o mais possível do detalhe particular e concreto. Então, por exemplo, se você escreve assim, fulano sacou do revolver, é possível que tenha acontecido isso, mas se você disser, fulano sacou do seu Smith-Wesson calibre 44, não é a mesma coisa, é sacado uma Glock calibre 22, que, portanto, você se aproxima mais da impressão visual exata. Então, esta busca da exatidão me parece que tem sido totalmente negligenciada. As pessoas estudam e têm urgência de dizer certas coisas e começam a dizer na linguagem que eles põem, sem pensar isso, quer dizer, que estou escrevendo isso como escritor ou estou escrevendo apenas como um intelectual acadêmico ou como jornalista. O que está voltando no Brasil não são intelectuais acadêmicos, nem jornalistas, está voltando a escritores. E, para o sujeito de tornar uma escritora, a primeira coisa é o seguinte, ele tem que gostar mais do idioma do que dele mesmo. Isso é básico, básico, básico, básico. Se você não tem uma devoção ao seu idioma, se você não ama aquilo de paixão, você nunca será um escritor. Então, por exemplo, se hoje em dia, claro que a maior parte das coisas que a gente lê são idiomas estrangeiros. Mas a transposição dos recursos estelísticos de uma língua estrangeira para a sua língua própria exige que, primeiro, você domine esta última de trás para a diante, senão você não consegue, senão você vai fazer apenas uma macaquice. E, se nós não restauramos urgentemente esta noção do termo próprio, não é dente você falar em busca da verdade, meu filho, porque você vai dizer aquilo que você viu ou você vai dizer apenas alguma coisa parecida? Alguma coisa que tem uma alusão à aquilo. Segundo, todos nós podemos usar figuras de linguagem, metáforas, metonímias, hiperboles, etc., mas nós temos o controle da ligação entre a linguagem literal e essas metáforas, ou já perdemos esse controle? Eu sei quando estou fazendo uma metáfora ou metonímia e quando estou dizendo uma coisa literalmente, eu percebo esta diferença ou não? Isso é uma coisa básica, porque eu também não vejo mais as pessoas se preocuparem com isso. Não é que não fazem, não sabem que é preciso fazer e é por isso que você vê essa linguagem em própria o tempo todo. Uma segunda coisa é o ouvido. A língua de um escritor tem que ter fluência, significa que ela não pode arranhar o seu ouvido. Ela tem uma música, meu Deus do céu, a música é interna, isso tem que ser respeitado e é isso que marca, a propriedade vocabular e a musicalidade do idioma é o que marca os grandes escritores. Se você escreve sempre prestar atenção a isso, você nunca vai acertar. Claro, você pode dizer coisas importantes, coisas culturalmente valiosas, etc., mas você não está dizendo como escritor e nesse sentido você não está ajudando a restaurar a cultura do Brasil. Mesmo que no conteúdo do que você disse, você esteja dizendo coisas importantes, como o próprio Martin Vázquez diz, coisas importantes em esse livro. Se você está dizendo que o conteúdo importante é elevante e é acadêmico. Fale mais alto. É acadêmico, não faz. Bom, antes de tudo você precisa decidir o que você quer ser quando crescer. Você precisa descobrir quais seus talentos que você tem e quais que você não tem. E aí entra o famoso efeito Dunning Kruger. O que é o efeito Dunning Kruger? Você não ser capaz de avaliar como seria o seu desempenho em tal qual tarefa ou em tal qual situação. Por exemplo, vamos ver. Você se perde no mato. Você saberia o que fazer? Responda seriamente essa pergunta para você. Esta pesquisa Dunning Kruger mostra que a maior parte das pessoas não tem a menor ideia de como seria o seu desempenho. Digamos de uma situação como essa. Ou na seguinte situação, deixar um bebê na porta da sua casa e você está sozinho. Você não tem para quem pedir ajuda. Você sabe o que fazer com o bebê? Então está o negócio. Eu já fiquei perdido no mato o único quatro dias. Então eu sei que mais ou menos eu saberia o que fazia. Então a minha lição seria o seguinte. Se vocês perdem no mato, a primeira coisa é fazer essa suposição. Eu vou ter que ficar aqui o resto da minha vida. Então eu tenho que sobreviver aqui. Porque se você pensar em como que eu vou fugir de escapar daqui, você está feado. Então essa é a primeira coisa. Então não é como fugir daqui. É como ficar aqui. Eu acho que todo pessoa que tem que lidar com essa coisa vai saber que é exatamente assim. Então essa situação como eu já vivi, eu sei mais ou menos. Eu não sou especialista na coisa. Tem gente que sabe muito mais do que eu. Então eu tenho um amigo que era entomólogo e ele demarcava um lugar de 40 centímetros por 40 centímetros e ali ele encontrava uma centena de insetos que eu nunca teria visto. Nem que eu observasse. Então tem pessoas que têm habilidades especializadas muito maior que a nossa. Mas em imaginação nós podemos supor certas situações, certos desafios cognitivos e tentar avaliar o nosso desempenho. Na maior parte dos caras nós vamos errar. E isso é exatamente o que é o efeito do Uning Kruger. Na medida em que você não é capaz de avaliar o seu desempenho nessas situações hipotéticas, você também não é capaz de avaliar o desempenho do outro. Então naturalmente você vai hipertrofiar as suas habilidades e você vai depreciar a dos outros. Quando se trata de escrever, por exemplo, você não gostou do que eu já escrevi. Eu falo muito bem, escreve a melhor do que ele. Você conseguiria dizer isso melhor do que ele. Não vem tendo 100% dos casos a resposta. Não. Então isso quer dizer que você nesse caso está depressando uma coisa, você não está nem entendendo. Estão entendendo como a busca, a preocupação com a linguagem, a busca do termo próprio é uma coisa absolutamente indispensável. A busca da verdade em qualquer domínio. Então vão partir do seguinte exercício. O que você quer realmente ser quando crescer? Por exemplo, você pode ser muito grande em um domínio, sem ser grande no outro domínio, vizinho. Por exemplo, eu pego aqui o Seied Roussein Nasser, um dos mais eruditos que já passaram pelo Estados Unidos. Ele foi ministro da Cultura do Irano no tempo do Rézapaléve. Eu sei que mais conhece a história das ciências lâmicas, conhece de trás para dentro, sabe tudo. E, no entanto, ele escreve no inglês de Congresso, inglês de Congresso científico, inglês, totalmente sem graça. Porque ninguém é obrigado a ser gênio em duas coisas. Se você é em uma, está mais que bom. Tem pessoas que são em duas ou três. E às vezes é um pouquinho gênio em cada uma, também vale isso. Vai ser um gênio total em dez domínios diferentes? Bom, é muito difícil e não é exigível de ninguém. Se você for ver a obra de Edmondo Roussein, Edmondo Roussein foi sem dúvidos do maior filósofo do século XX. Edmondo Roussein só escreve em linguagem técnica. Ele não tenta ser um escritor, ele não tenta ter expressividade, ele não tenta fazer você ver o que ele está dizendo. Ele está escrevendo para um público de profissionais que o reconhece pelos termos técnicos. Qual é o problema disso? Então, é o seguinte, ele sabia o que ele ia querer ser, ele queria ser um matemático e filósofo, mas nada. Foi o que ele foi. Em outros casos, quando você pega o Prodivabido da José Ortega H.C., ele percebeu que a atividade filosófica na Espanha tinha morrido e que, portanto, ele precisava criar uma geração de filósofos. Portanto, ele precisava se dirigir a um público sem informação filosófica para atraí-los e capacitar-los. Então, ele precisava escrever em uma linguagem literária, popular, que atingisse as pessoas. Então, ele teve que desenvolver esta habilidade particular, que, inclusive, se você acompanhar a obra inteira, a obra inteirinha dos José Ortega H.C., você vê que essa capacidade evoluiu muito, muito, muito, muito, porque no começo, ele usava uma linguagem literária meio copiada dos franceses um pouco pedantes e ele foi aprimorando, aprimorando até chegar na perfeição absoluta. Ele é o maior prosador da língua espanha. Olha, em todos os tempos, nem o servante se compara ele nesse ponto. Você dá eficácia no uso de um termo tão próprio que parece que você está vendo a coisa. Ele mesmo compara, ali, como se saísse uma mão da párnete e desce uma poada, ele consegue fazer isso, porque era necessário fazer. E, certamente, ele tinha essa obsessão. Não, ele tinha mesmo. Era isso que ele queria. No começo, não conseguia, mas depois conseguiu. Então, agora, se você vai escrever para um público de seus colegas de profissão, se ela nascia em social, se ela não precisa ter essa preocupação, e não precisa ter esse talento, então não adianta forçar. Agora, se você quer ser um escritor, então entenda o que é uma escritora. Uma escritora é alguém que domina o idioma. O que é dominar o idioma? É obrigar o idioma a dizer o que você quer que ele diga e não o que ele já está dizendo nos formatos consagrados. Portanto, é você combinar os recursos de idioma de modo a dizer alguma coisa que não foi dita antes e para qual idioma não está preparado. Então, ser um escritor é trabalhar o idioma. Sempre. Não é só trabalhar as ideias, trabalhar os conteúdos. Não é trabalhar o idioma, meu Deus do céu. E, na verdade, eu não vi ninguém preocupado com isso. Os melhores não estão preocupados com isso. É isso que eu disse. Eu disse que na grande mídia brasileira não há nenhum escritor, zero. Na mídia provínciana ou na internet existe. Eu não posso negar que o Yuri vier é um escritor, que o Percival pudir não é um escritor, que o Paulo Brighi é um escritor. Eu não posso negar essas coisas. Que o Rodrigo já é um escritor, porque eles têm essa sensibilidade de idioma. Eles têm esse amor ao idioma e eles cultivam a coisa para tornar o idioma capaz de dizer aquilo que eles perceberam. E, na mídia que você diz o que você percebeu, você está dizendo que muita gente percebeu. Às vezes, percebeu de maneira meio semiconsciente, por assim dizer. É aquilo que está quase chegando no umbral da consciência, mas não chegou ainda. Então, daí você diz e o sujeito acorda. Ele diz, oh, foi isso o que eu percebi. Então, o escritor dá voz aos outros. Coisa que um jornalista não precisa fazer. Coisa que um filósofo não precisa fazer, se for apenas um filósofo profissional, não sem a dimensão literária. Mas, no Brasil de hoje, a dimensão literária é urgente. Porque gente, para escrever para os seus próprios pares na universidade, tem de monte. Gente que domina o acadêmico tem de monte. O acadêmico não é incompatível nem mesmo com erros de gramática. Só que ali você não precisa ter a precisão vocabular, você não precisa ter fluência, você não precisa ter nada. Você está falando em código, por assim dizer. Não há problema nenhum em escrever em código. Se você não tem talento literário, mas pode ter o talento filosófico, matemático, científico, etc., é outra coisa. Então, o cuidado com o idioma é o cuidado com a percepção da realidade. Note bem que, quando você está numa disciplina acadêmica, você não está jamais lidando com realidades. Tudo o que você lida já está estabilizado em conceitos convencionais. Você está lidando sempre com isso. É sempre como uma espécie da realidade segunda mão. Quando você se volta para a realidade, eu digo, se você for um filósofo e você está trabalhando com coisas que ninguém percebeu antes em que você é o primeiro a perceber e falar, você vai ter que criar ou criar uma outra linguagem técnica, como fez o Edmond Russo, ou você vai ter que desenvolver seus dons literários para poder dizer o que ninguém disse antes. Essa despreocupação, vamos dizer qual a linguagem é, essa falta de amor ao idioma, eu acho que é um obstáculo à própria busca da verdade. Então, isso tem que ser vencido. Então, tudo aquilo que nós dizemos vem acompanhar do sentimento de que estamos na verdade. Mas, o maior par dos casos do sentimento é realmente enganoso, porque você está apenas dizendo algo com que você concorda, portanto que concorda com as suas memórias, concorda com as suas percepções, etc. etc. Mas existe um outro problema. Toda a verdade que nós possamos captar na realidade, ela tem contradições dentro dela. Isso é básico. Em primeiro lugar, vamos para você ver uma paisagem. Você vai prestar atenção ao negócio das árvores e do bosque. Bom, a árvore está dentro do bosque e uma coisa não é a outra, a outra não é a uma. E você não consegue prestar atenção nas duas ao mesmo tempo. Portanto, você olha o detalhe singular e você olha o todo e você precisa pegar o encaixe de uma coisa na outra. Aí você já tem uma espécie de atenção. Não digo não é uma contradição no sintiro lógico, mas é uma atenção entre a parte e o todo. Mas ainda existe atenção entre o antes e o depois. Quer dizer, qual foi a ordem exata com as coisas que sucederam? Isso nunca vem pronto na sua mente. Você tem que reconstruir. E na reconstrução você já faz uma seleção. Então, essa atenção, vamos dizer, entre parte e o todo, entre o aparente e o escondido. Porém, tudo que você vê, a parte escondida é sem dúvida a principal. Por exemplo, você olha uma árvore, você está vendo apenas a casca? Não tem nada dentro da casca? Não. Aí é que está a madeira. E é isso que é a árvore. Você sabe que ela está lá, mas você não está vendo. Portanto, essa atenção entre o aparente e o oculto também está sempre presente, na verdade. E esse oculto não é um mistério que você tem aqui em desencavar. É uma coisa que todo mundo sabe que está lá o oculto. E em tudo o que você vê, o principal, o estofa, a substância está dentro da coisa e não fora. Você está vendo um ser humano e você vê que ele está vivo. Ele está vivo por que? Por causa da aparência da casca dele não. É porque os órgãos internos estão funcionando no sangue da circulância. É assim por diante. Você não está vendo nada disso, mas você conta com isso. Esse contar com... O Jorjee T. H. C. escreveu o par no Maravilhoso, esse contar com aquilo. Tudo que você não está vendo é que você conta com aquilo. E esse contar com é o que nos leva à percepção, um pouco mais elaborada do círculo de latência. Ou seja, você percebe muito mais do que você percebe. Você está sabendo muito mais do que aquilo que chega aos seus cinco sentidos. Se você perguntar se nós percebemos as coisas com as cinco sentidos, eu digo, ah sim, os cinco sentidos. Só que tem o seguinte, para perceber os cinco sentidos, você tem que estar presente. Então, esse senso da presença, de onde você pega? Não é nenhum dos cinco sentidos. Você tem que estar presente as coisas, você tem que estar presente para que você perceba os cinco sentidos. Mas esse senso da presença não se deixa resumir a nenhum dos cinco sentidos e ele abrange o cinco. Então, se nós fossemos reduzir como fazer os antigos empiristas a nossa percepção aos cinco sentidos, nós estaríamos num mundo de fantasmagorias, ser um mundo de formas vazias nas quais tudo teria de ser preenchido pelo seu pensamento. Então, eu estou vendo, por exemplo, uma pessoa viva, como é que eu sei que ela está viva? Ah, porque eu penso, por analogia com outras pessoas, eu começo a pensar que ela está viva. Alguém precisa pensar para perceber que o idiota está vivo na sua frente? Ninguém precisa pensar para isso. Isso chama se conhecimento por presença e isso é uma coisa que está onipresente em todas as percepções humanas. Então, isso quer dizer que o simples ato de percepção não pode ser reduzido às operações dos seus cinco sentidos. Tem muito mais coisa que está presente ali. Então, você conscientizar esses lanças que estão presentes em toda e qualquer percepção da verdade é o primeiro sinal de que você está querendo a verdade. Isso quer dizer que a autoconsciência do seu processo cognitivo faz parte das suas buscas da verdade. E isso nos leva diretamente ao tema de um dos exercícios fundamentais que eu quero chamar o mapa da ignorância. Nunca será demais você se exercitar nisso. Então, você pega um tema qualquer, que é um exercício, você pega um tema qualquer sobre o qual você quer se informar ou cuja verdade você deseja descobrir e faça a lista das perguntas cuja resposta você não sabe a respeito disso. É essa lista que vai dar para você, vamos dizer a topografia que você vai precisar preencher com dados reais para ter a visão da situação. Existem às vezes certos fatos que são importantíssimos para nós e que permanecerão inacessíveis pelo resto da sua vida que só podem ser preenchidos por imaginação e, no entanto, podem ser assuntos importantes. Por exemplo, você conhece muito mal a história da minha família. Eu já tentei averiguar, mas chego um ponto, daqui não passa, daqui para trás não tem mais informação. Então, eu só posso preencher com imaginação. Ora, se você vai preencher com imaginação, você entra no segundo exercício que é o exercício dos graus de credibilidade que eu já dei no começo deste curso e que é baseado no primeiro e no segundo, agora é o 4º discurso. Quando você cria que sabe algo, você tem que graduar. Eu sei isso como possibilidade, ou seja, eu sei que isso é possível, sei que é possível que tenha sido assim. Eu sei que é verossímil que tenha sido assim, se eu disser isso para as outras pessoas, elas vão acreditar, porque o verossímil é nada mais do que isso, você dizer uma coisa que as pessoas acreditam. Eu sei que isso é razoável, isso é que existem motivos suficientes, motivos logicamente relevantes para que seja assim, ou mais ainda, existem mais motivos logicamente relevantes para que seja assim do que para que não seja assim. Então, aí você já entra no confronto de argumentos. Ou eu sei isso com uma certeza absoluta, ou seja, eu posso dar uma demonstração cabal e irrefutável. Então, se você não sabe graduar os seus conhecimentos e as suas crenças, você não sabe o quanto elas valem e se é a mesma coisa que dizer, você não sabe nada. Para para começar na gravidade do que eu estou dizendo. A maior parte das pessoas, quando elas dizem coisas que elas acreditam com a sua verdade, elas não tentaram graduar. Então, se você não sabe quanto as suas ideias valem, você nada sabe o respeito delas, são simplesmente ideias que passaram pela sua mente. Então, esses dois exercícios, o mapa da ignorância e o grau de credibilidade, são uma coisa para você fazer o resto da sua vida. Ora, mas isso é para você fazer com os seus próprios conhecimentos, não com os dos outros. Os dos outros você pode fazer muito mais tarde, quando você estiver incorporado a esses exercícios, ao ponto de ter você automatizado. Quer dizer, meu co-reum ideia, eu penso tal coisa, digo, bom, quanto isso vale? Isso tem a possibilidade, isso tem uma especulação poeta que eu estou fazendo, isso tem uma verocimilância, ou seja, algo que se eu disser em público, o público vai concordar. Então, por exemplo, se nós dizemos hoje, ah, o pessoal do PT roubou um montão de dinheiro, você não precisa ter a prova imediatamente, isso já é de domínio público, todo mundo concorda, não é isso? Mas, não quer dizer que você tenha a prova, também, muitas vezes, você tem a prova, mas você não precisa apresentá-lo no momento, por tanto, você diz aquilo em nível de verocimilância, o pessoal aceita e acabou o problema. Então, por exemplo, vou dizer, advogado, esperante e um júri, quanto que eles precisam argumentar, quanto que eles precisam provar? Só o suficiente para o júri aprovar a tese deles, nem uma sentença a mais. Portanto, ele vai ter que ficar no verocínio, olha, os caras acreditaram no que eu falei, tá bem, se eu continuar argumentando, pode ser que eu confundam a cabeça deles, né? Isso, então isso quer dizer que os discursos de advogados, esperante e um júri, são discursos retóricos, puramente retóricos, eles vão parar no verocínio, pode ser que no curso do processo se exija algo mais, mas a ideia é argumentar o mínimo, não o máximo. Quando você passa para o discurso da razoabilidade, ou seja, você quer ter uma certeza científica razoável, então aí o número de argumentos pode ser indefinido. Quanto mais, melhor, eu dou como exemplo a famosa refutação do psicologismo por Edmond Rousseau na introdução das investigações lógicas, que ele refuta a teoria de que as leis da lógica são as mesmas leis psicológicas do pensamento, ou leis do cérebro se quiser, refuta isso, e apresenta uma prova depois outra, depois outra, depois outra, depois outra, depois outra, depois outra, depois outra, depois outra, ele quer esgotar o assunto. Por quê? Porque ele não quer apenas conversar as pessoas, ele quer tirar a dúvida, né? E para tirar a dúvida, bom, qualquer dúvida, os argumentos a favor em conta podem ser indefinidos, não digo infinitos, mas em número ilimitado, e portanto quanto mais melhor, para quê? Para que a razoabilidade ou possibilidade da coisa fique razoavelmente estabelecida, ou seja, examinei a coisa por tantos ângulos que é difícil aparecer um outro, não é impossível, mas é difícil. Você ver que em seres humanos e filosofias dificilmente passamos desse grau de credibilidade, mas até que ponto as pessoas podem levar as suas argumentos e refutações? Em geral, as pessoas se confiram, conformam apenas com o vero símptimo, e acreditam que estão discutindo no nível da razoabilidade. Esta semana, por exemplo, eu li um negócio que foi mandado a um idiota, qualquer e mandou um texto no tal de Abdala, dizendo o seguinte, dizem que a escola austríaca refutou Karl Marx, mas não é verdade, porque? Porque eles não levam em conta o materialismo dialético, dentro da perspectiva materialista dialética, então é possível você criar uma teoria do valor objetiva, teoria objetiva do valor, em contraste com a teoria subjetiva, que é da escola austríaca, mas o valor não é uma coisa que estão dispostas a pagar por ela. Então a teoria do Marx, o senhor ele mostrou que ela faz sentido dentro da perspectiva materialista dialética, mas ele não mostrou que a perspectiva materialista dialética faz sentido, mas se contentou com isso e achou que fez uma grande coisa. Bom, a teoria materialista do teoria Marx do valor diz, o valor da mercadoria é determinada pela quantidade de trabalho socialmente necessário para produzir ela. O senhor acabou de dizer isso, você tem que entender que isso é absurdo, não precisa dizer a frase seguinte, e de por que? Qual é a principal mercadoria? A terra, meu Deus do céu, quanto custou para fazer a terra? Qual é a quantidade de trabalho socialmente necessário para fazer a terra de uma fazenda? Ou tudo que está na terra? Então, nós sabendo que a propriedade da terra é um elemento básico da economia, e que a terra é a mercadoria das mercadorias. Então, uma coisa que não é produzida tem um valor extraordinário. Então, é claro que não é possível fixar o valor das mercadorias pela quantidade de trabalho socialmente necessário. Ou seja, a famosa medida objetiva, se você quer uma medida objetiva, então aí mesmo é que a teoria Marx do valor está errada. Com ou sem materialismo dialético? Mas o pior é o seguinte, tem que ser um sujeito, ele escreveu lá assim, esse olávio indica, ele diz que tem uma refutação no seu dedo, que quando você vai ver a refutação é pífia. E daí como exemplo ele dá a cita esse texto do tal do Abdullain, só que o seguinte, a refutação que eu me referi não é da teoria do valor, é da viabilidade da economia estatal, que foi refutada pelo Ludwig von Miede, de uma maneira muito simples e muito elegante até, com base na impossibilidade do cálculo de preço numa economia socialista. Não tem nada a ver com a teoria do valor, que também está refutada. Eu não sei de fato se as refutações apresentadas pela escola austria com relação à teoria do valor não são por sover refutáveis, toda refutação é refutável, indefinidamente, que não quer dizer que seja totalmente inválida, mas você vê que esse desejo de ganhar discussão sem ter sido precedido por uma busca da verdade, cria esses monstros. Então é claro que tem pessoas que já superaram isso aí, todos esses bolecadas que estão aparecendo agora, escrevendo livros, todos já superaram, são pessoas que passaram pelo meu curso, esses problemas não tem mais. Não se deixe enganar tão facilmente por um arremedo de refutação ou de argumento. O que falta agora é isso, é a sua linguagem, a linguagem de todos está muito ruim, de todos, sem exceção. Para não dizer que se você pegar quais são as pessoas que escrevem com mais precisão, eu acho que tem dois que não tem nem sequer pretenção de ser escritório, que são o reino Ausêvedo, Percival Pudim. Difícilmente você vê algum uso de palavras que distoem do sentido próprio. Então o pessoal vai citar o João Pereira Coutinho e falar assim, não vale porque é português. Todo português tem esse sentido e todo português ama a língua portuguesa de paixão, coisas que os brasileiros não fazem. Se você não ama a língua desesperadamente, você nunca vai escrever bem nela. E se você foi educado, lendo livros em inglês e você tenta obter em português os efeitos do inglês, você vai se ferrar completamente. E hoje nós sabemos, eu alimento intelectual das pessoas, porque é tudo inglês. O português é uma língua muito boa para traduções, mas muito boa mesmo. No português você pode alcançar um nível de precisão nas traduções, que em francês é impossível. Em francês existe aquele negócio que, você escreve um negócio, chega um francês e diz, em francês não se diz isso. Diga, mas como é que tem que ter um jeito de dizer isso? Não, em francês não se diz isso. Existem coisas que você não pode dizer em francês. E que não pode estar escrito em inglês, espanhol, ruso etc. Quer dizer, o francês vai ter que dizer uma outra coisa, que se pareça com essa. Isso no português não existe. Português é uma língua enormemente flexível e por exemplo incrível que pareça que tem as piores traduções do mundo. Não é isso? Tem um ralo do seu que faz comparações de traduções de obras em inglês e em francês, de português de Portugal e português de Portugal. Ah sim, ele fez a comparação da tradução dos demônios, dos Dosto Eves, que é a tradução da editora 34, tradução com notas e introdução etc. feitas por um jeito que é averso dos Dosto Eves, que era o inverso dos Dosto Eves. Então ele tenta dar um sentido comunista, tudo aquilo, que é absolutamente impossível, porque esse foi um dos mais anticomunistas da história humana. É um levante revolucionário até a medula. Então ele mostra uma série de falsificações que o gente fez mesmo e para a tradução. Eu não se lembro do nome da pessoa, desculpe, mas a paz que está fazendo essa comparação. Evandro Ferreira. Evandro Ferreira está fazendo essa comparação, uma coisa muito bem feita e muito importante, quer dizer, para não ler a tradução da editora 34, que não é uma tradução. E no entanto, praticamente toda a tradução, você sabe qual é a melhor tradução que eu li em português na minha vida, foi a tradução da ação humana do Ludwig von Mises, feita pelo Donas Tjort, que é um cara de família canadense que nunca foi tradutor nem escritor na vida, que era um empresário. Aquela tradução está perfeita, está maravilhosa. É aquela edição verde, grossona. Meu Deus do céu, se as tradições fossem como esta, estaria tudo bem. Agora quando tem esse cara que é um empresário, que é um empresário, ele quer que os negos entendam. Ele não está lá para fazer bonito, nem para lançar a carreira e tradutor, ele está pouco se lixando para ser tradutor. Então, por isso, ele traduziu direitinho. Então, no começo da vida, você tem que decidir o que você quer ser e o que você não quer ser. Então, por exemplo, no começo da vida, pensei que eu poderia ser um scholar. O que é um scholar? É um herudito, que pode ser um historiador, um filólogo, um dicionarista, uma coisa assim, um folclorista, como o Isaac Marcascu, então são pessoas que catam milhões de informações e as organizam de algum modo e que ajudam você a entender obras de arte de outras épocas. Eu podia ter sido isso. Para isso, você precisa de uma formação específica. Mas depois eu descobri que não, isso aí para mim é muito chato. Eu não vou querer ficar a vida inteira fazendo isso. Se eu fosse organizar um dicionário, bom, eu acho que eu morreria no meio. Se o que eu chegasse no milésio verbete, eu já teria morrido e não ia aguentar isso aí. E não entanto tem pessoas como Aurélio Borque de Holanda, o Antonio Aiz, que passaram a vida fazendo isso. Esses também cultuam idioma, mas não no sentido que o escritor cultua. Ele cultua uma idioma como um produto histórico, não como um instrumento da sua expressão. Tanto que quando você lê, por exemplo, esse criito do Antonio Aiz, eles são horríveis. O Mirói Fernandes dizia o seguinte, o Aiz conhece todas as palavras da língua. Ele só não sabe juntá-las. Isso é verdade. O Sr. Schreitz escreveu horrívelmente mal. Com exemplo, legal no que esse mundo diz, é? Então... Ele chegava a ser ridículo e era um dos homens mais cultos do país. Mas isso, veja, escrever bem não é exigível de um filólogo, porque idioma, a qual se refere, é um produto histórico e não um instrumento que ele vai manejar. Ele tem que ser um pouco escritor, claro, senão ninguém vai entender o que ele diz, o que acontece frequentemente com o Antonio Aiz. Mas, por exemplo, eu conheci pessoas eruditíssimas nesse sentido. Eu conheci o José Cúry, que fez uma ordem de seu onário bilínguei árabe do mundo. Tirou em 15 volumes, 7 de árabe português, 8 de português árabe. Ele levou, acho que, 10 anos para fazer isso. Daí um dia eu cheguei para ele e falei, seu corpo, por que você não faz uma gramática árabe? Passa um tempo, eu chego lá e ele me mostra uma agendinha, cheia de... Tô preenchido com as letrinhas pequeninhas, pequena. Olha, eu fiz a gramática árabe. Como quem não tá dizendo nada, tá entendendo? Então, mas esse é uma escola, esse é o erudito, tá certo? E eu logo percebi e falo, não, esse não é o meu negócio. Não é isso que eu quero fazer. Eu quero... O Daniel Brilhante Brito, que é um surreito que falava 16 idiomas e recitava poemas nos 16, fazia citações nas línguas originais em chinês, maláio, russo, etc., etc. Como diz o grande poeta maláio, etc. Daí dá a tradução. É um negócio muito impressionante. Então, as línguas não são, efetivamente, o meu domínio, elas são um instrumento. Mas tem uma língua que, para mim, é fundamental, aqui é a minha própria língua. O que eu quero agir é na esfera educacional. Não quero fazer exatamente o que eu tô fazendo aqui, despertar as inteligências. E, para isso, o uso da língua que você vai fazer é totalmente diferente do que faria um filólogo, por exemplo. Então, faça essa pergunta para você mesmo. Quantos talentos eu, efetivamente, tenho, quais os que eu quero realmente trabalhar e quais os que serão secundários, meramente instrumentais? Isso. Então, o repouso conhecimento de idiomas estrangeiros com estudantes filósofios é meramente instrumental. Não são uma área específica de interesse. Agora, se você quer ser, por exemplo, um tradutor, ou falar, bom, aí mudou, a coisa mudou de figura, meu filho. Então, não perca o seu tempo trabalhando talentos que são secundários ao objetivo da sua vida. Então, por exemplo, se você quer atuar na área de educação, você vai ter que desenvolver uma expressão oral e escrita que funcione. Ou seja, que toque a consciência das pessoas profundamente de uma maneira eficiente. Eu acho que isso eu sei fazer. Os 220 mil neguinhos que me seguem no Facebook são a prova disso. Quer dizer, eles estão entendendo o que eu estou dizendo. Hora que os negos saem na ronca, o cara está isolado, tem razão. Ou seja, pô, os caras me entenderam. Quer dizer que eu não estou falando do grego, não estou falando de fícil. Então, isto é um determinado uso da linguagem, que não é totalmente literário, mas é em parte literário. Quer dizer, na educação, o uso da linguagem requer o dom literário. Sem isto você não vai a parte alguma. Então, aí ficam essas dicas por hoje do mapa da ignorância e dos graus de credibilidade e o problema da propriedade vocabular. Eu acho que, mais cedo, você está aqui da prada, que ele também me quer me dizer. Ah, claro. Um exercício que eu recomendei aqui logo no início, e eu vejo que os escritores novos que estão lançando o livro nunca fizeram isso. É a imitação dos grandes escritores. Você vai aqui escrever duas págras no estilo de Camilo Castelo Branco, no estilo de Machá de Assis, no estilo de Gerson Llanorão. No estilo João Gilmaré Rosa, se você conseguir. Emite. Existe uma crônica do Machá de Assis, chamando um cão de lata ao rabo, onde ele escreve a mesma cena em três estilos diferentes. Emitando Chathouyan, imitando Victor Hugo, imitando Semguém Má. Aqui no exercício. Faça aquilo, meu Deus do céu. Machá de Assis fez. E isso aí é muito importante para você aprender o peso relativo das palavras, que é uma coisa que é mais sutil até do que a propriedade vocabular. A propriedade vocabular é uma coisa que você com um dicionário consegue resolver. Se você pegar um dicionário analógico, existe um dicionário analógico de um autor chamado Fernandes, publicado para ele disser a Globo, que é uma verdadeira maravilha, o equivalente ao Tisaurus, aqui do Roger, David Roger. Então é um dicionário analógico, ele pega uma ideia e todas as palavras que tem a ver com aquela ideia. Só que umas tem mais a ver, oas tem menos a ver, e ali você vai escolher o que é o termo exatamente apropriado do que você quer dizer. E se você não encontrar nenhuma, eu digo, bom, então você vai ter que fazer uma palavra, você não vai poder dizer com uma palavra, você vai ter que usar duas, ou três, ou quatro. Mas nunca perder essa preocupação do termo próprio. Por isso aí é assim, a marca de que você é uma escritora é que você busca o termo próprio. Se você não faz isso, você não é uma escritora GD1. Sensibilidade semântica. Sim, sensibilidade semântica, claro. Então o descuido disso impede que obras de grande valor cultural exercem um efeito que tem de desercer, às vezes até sobre o seu próprio autor, não é isso? Isso quer dizer que não é que eu não esteja recomendando essas obras, qual é o que eu recomendo? Está certo? Mas sabendo que em termos linguísticos elas ainda estão deficitárias, elas não chegaram ao ponto ainda de poder renovar a língua portuguesa, poder renovar a circulação de ideias aqui e o ali, mas se nós não renovarmos a língua portuguesa, não vão ter conseguido nada, porque a língua é o terreno de todos se encontram. Então é o lugar de todos se reconhecem. Está certo? Então é onde você sai do isolamento físico, porque as nossas sensações físicas são apenas nossas, não são compartilhadas por ninguém. Quando o sujeito está com dor de dente, você não sente nada, o outro está com dor de dente, não tem muita coisa nenhuma. Então no mundo físico nós temos esse isolamento, no mundo de sentimentos também. Mas é na língua que nós nos encontramos, então nós nos libertamos dessa prisão da individualidade física e nós comungamos de uma experiência, a experiência se torna comum. Então nós podemos dizer assim, não existe uma língua literária no Brasil de hoje, nos anos 60 ainda existia. Por exemplo, não havia quem não soubesse ler o Manão Bandeira, ou o Carlos do Mundo de Andrade, ou o Jorge Amado, está certo? Ou o Marques Rebello, aquela era a língua de todos. Partindo às vezes de elementos regionais, está certo? Mas alcançando a população inteira. Hoje nós não temos uma língua de todos, isso é importante, você tem inúmeras linguagens individuais quase incomunicáveis, feitas de arranjos improvisados. E eu tenho consciência de ser o único sujeito que está tentando trabalhar esse problema conscientemente há 30 anos. Claro que depois apareceu um outro, eu acho que o Rodrigo Gurgel tem essa preocupação. E outros conseguem escrever, a fazer na língua de todos, não sei se portanto, feito esse exame, ou por um talento inato, que eles têm como, por exemplo, o Paulo Brigueiro. Então, o Paulo Brigueiro consegue facilmente commover todos os seus leitores, quando ele quer. Então isso significa que ele tem essa propriedade de vocabulário, talvez por um dono inato, porque tem, está certo? Mas já por ocupação sistemática com isso eu não vi ninguém, o Bruno tinha, o Bruno só não tinha, mas infelizmente ele morreu antes de poder ensinar as suas pessoas, que eu implorava para ele, pedir implorava para ele, Bruno você tem que ensinar as suas pessoas, elas não sabem mais. Por exemplo, a coisa do ouvido, não tem mais ouvido, por exemplo, para fazer poesia, quando tem uma ideia dimétrica, é uma ideia, por exemplo, não é metrica, é aritmética. Está certo? Mas em geral nem isso tem, por exemplo, eu recomendo aos meus alunos, que querem ser poetas, treinem as formas fixas antes de passar para o verso livre. Isso é o óbvio, foi o que fez Manoel Bandeira, o que fez o Caralho do Mundo Andrade, que fizeram todos, é assim que se faz. E no Brasil o verso livre se tornou uma coisa obrigatória, por isso que eu digo. Eu lembro quando o Arnaud Jabor, o Bruno Tolentino, e ele escreveu uma matéria apresentando o Bruno Tolentino ao público brasileiro, ele botou o título Bruno traz de volta a Peste Clássica. Então, mas a Peste Clássica Jabais foi abandonada em parte alguma. Quer dizer, as formas clássicas continuam sendo praticadas por todos os grandes poetas do mundo. O Uistanólder, o Ungarete, todos eles, só no Brasil que ficou proibido. Então, sem esse exercício das formas clássicas, você nunca vai dominar a música mais sutil, que pode ter um verso livre. Quer dizer, você não sabe nem fazer a coisa com molde quanto mais sem molde. Então, as pessoas dedicam a molde porque elas amam uma língua. Então, quando você lê Camões, por exemplo, o Soneste Camões, ali a língua alcança uma dignidade, uma altitude, e você não pode baixar depois daquilo. Quando você lê o Camilo Castelo Branco, você vê frases de uma precisão que parece que dói. Quer dizer, quer fazer doer, faz doer. Claro que ele joga com o vocabulário imenso, que na maior parte está em desuso hoje, mas uma palavra está em desuso, o que é que impede que você reintroduza no uso? Você põe uma palavra desconhecida no meio de muitas palavras conhecidas, de tal modo que o sentido dela se torne alto-evidente. Porque o cara não precisa buscar o dicionário. Faça isso. Eu vivo fazendo isso. Os termos que são raríssimos, mas que eu tento usar de um jeito para falar, todo mundo vai entender. Ninguém não sabe o que ama, vai entender. Então, com isso aí você está arruzando a reconstruir o idioma geral, o idioma de todos, que é o idioma, quer dizer, o uso culto da língua. O uso culto da língua é esse, é aquele que todo mundo entende. Agora, os usos locais, que dependem das grupos, né? Bom, você pode ir lá, colher elementos daqui e reintegrar no uso geral, como fez o Alberto Sáenz. Você pode, lá no Morda Rocinha, anota todos os termos que estamos usando, as frases, etc., etc., e reintroduza aquilo no uso culto. Você sempre pode fazer isso. Nós não é obrigatório. Mas a ideia de restaurar um idioma comum no qual todos nós possamos nos entender, isso é uma coisa urgente e isso está sendo negligenciado até por pessoas que têm, vamos dizer, uma pretensão literária mesmo, além da pretensão intelectual, erudita tem uma pretensão literária, mas negligenciam isso por falta de amor ao idioma. Às vezes, por excesso de amor, há idiomas estrangeiros. É um negocio se apaixona pela língua inglesa e só consegue pensar em inglês, daí traduz para o português. Olha, eu sempre que aprendi um idioma estrangeiro, eu fiz o contrário do que os professores de idioma recomentam. Eles dizem, você tem que pensar no idioma que você está falando. Eu digo, nunca vou fazer isso na minha vida. Os professores dizem, você não pode traduzir mentalmente para o seu idioma. Eu digo, eu vou traduzir mentalmente tudo. Se eu não conseguir expressar em português, eu acabo de ler em francês, espanhol, italiano, inglês, é porque eu não entendi. Resultado, bom, eu posso não ter evoluído tanto no domínio desses idiomas estrangeiros. As recorres mal-toca americana até hoje têm dificuldade. Eu escuto o Negão falar que eu não entendo o que eles estão falando, nem eles entendem o que eu digo. Mas o que eu pude transpor do estrangeiro para o português, portanto, enriquecendo o português, isso eu fiz. Então, enriquecer muito o meu idioma português ao ler autores estrangeiros. Então, a tradução mental. Então, você dizem, o que você quer fazer? Você quer aprender inglês para você fazer turismo? Então, você vai ter que pensar em inglês rápido e não vai passar pelo português. Você quer ser representante comercial em Chicago? Então, tudo bem. Então, é isso que eu vou fazer. Você quer ser um escritor brasileiro? Então, meu filho, jamais pense em um idioma estrangeiro. Tudo que você lembra de idioma estrangeiro traduz a. Você vai estar enriquecendo, tomando posse do seu próprio instrumento. E cumprindo uma obrigação que é de todos os escritores. Bom, eu acho que por hoje é só. Vou fazer um paus da capognita e volta. Bom, vamos lá. Mas e tudo aqui em esclarecimento técnico pedido pelo Glacomferrantos. Então, ele pergunta o que ele pode fazer se ele distribui. Falando, não distribuem. Nós vamos botar de novo online esta semana, tá bom? Não se preocupe. Bom, agora vamos às perguntas. Eu vou dar preferência às perguntas que são pertinentes à aula de hoje. Mesmo assim, não poderia abarcar todas. Tiago pergunta. Não sei se a pergunta é apropriada, mas eu quero saber se Camões é um poeta mal do que Dante ou o contrário. Não, poeta mal do que Dante não existe. Não existe nem nunca existirá. Então, você tem aqui Dante, daí você tem a segunda linha, que é Shakespeare, Gert, Camões, etc. Isso é assim. Aqui, sou Eleni Simplice, pergunta. Achei a ótima aula de hoje, pois estou preocupado justamente com isso que você comentou. Pretendo melhorar meu domínio do português por causa de semana passada, eu comprei o livro Sumo Gramatical de Carlos Nogue. Também sei que o senhor recomenda bastante a Gramática Metódica da Língua Portuguesa, Napoleão Maiselmeida. Essa também pretendo comprar futuramente. Minha intenção agora é lembrar todas as regras da nova padrão da nossa língua, no intuito de melhorar a minha escrita imediata. Bom, eu lhe dou uma sugestão. Você lê o Diário do Herberto Sales, o chamado subsidiário. Foi publicado em vários volumes. Ali está cheio de dicas sobre a arte de escrever. E também, leio vários livros do Herberto Sales e reparem no seguinte. Cada livro do Herberto Sales, cada novo livro de Herberto Sales, queres ser escrito num idioma diferente, num estilo diferente. Ele pegou o estilo dos mineradores da Bahia, depois pegou o estilo dos burocratas do século XVIII, depois pegou o estilo dos pedagogos do século XX, técnicos de educação, no Liváins, tem um minigênio e assim por diante. Isso aí é dominar o idioma. É do jeito que você quer, não você ficar preso ao seu jeito de escrever. É isso. Você tem que inventar uma língua para cada coisa que você vai dizer. E ele dá, por exemplo, o Herberto tem parágrafos e parágrafos sobre a arte das vírgulas, como colocar vírgulas. São sugestões incríveis e ele sempre encontra soluções. Eu conheci o Herberto Sales, ele tinha 72 anos. Ele estava sentado na poucetura, no Hotel Glória, com um exemplar de Marcel Proust e um caderninho, anotando todas as construções, frasais que poderiam ser interessantes para ele. Houve 72 anos aprendendo como um garotinho da escola. É assim que se faz. Luiz Davi perguntou, bom, isso não tem nada a ver com a Alamiz. É possível visitar o professor algum final de semana? Claro que é possível, muita gente faz isso. Combinei com a Leila. Ricardo Theodor perguntou, tenho 20 anos, sou estudante de engenharia formada em cinema e estudo de filosofia por conta própria. Desde que eu falo disso, eu exerci o necrologo e venho falhando na tentativa de realizá-lo. Sei muito bem o que quero para minha vida, continuar estudando. Bom, mas a pergunta do necrologo é assim, como é que você vai terminar? É essa a perspectiva. A única vantagem do necrologo é obrigar você a olhar a sua vida retroativamente com antecipação. É tentar imaginar a vida completa. Eu sei que isso pode ser difícil no começo. É por isso que eu inventei esse truque. Imagina que você é o seu melhor amigo e que você ficou sabendo da sua morte e você vai contar a sua vida baseada no pressuposto de que você conseguiu fazer o melhor que você queria. Quer dizer, se a sua vida estivesse realizada, qual vida teria ela sido? Esta é a pergunta. Eu não vejo qual é a grande dificuldade. Ele é só muito católico, então também sei que devo fazer tudo por Deus, mas junto disso, sinto que tem um compromisso com o mundo, principalmente com o Brasil. Então você sabe mais ou menos o que você quer. Suponha que você fez isso que você quer fazer e conta a história. Leonardo Fernandes pergunta, se eu posso explicar o porquê, de verdade, ser uma pessoa e falar, bom, isso não é tema de agora, vou tocar nisso mais para a dente. Calma lá. Por enquanto nós estamos falando da verdade, no sentido mais imediato, concreto e pessoal possível. Por exemplo, se uma pessoa lhe conta uma história, como é que você sabe que é mentira? Ou como você sabe que você mesmo está mentindo? Tiago Rossellini pergunta, em comparação com o início da sua carreira, quanto tempo de momento para o senhor produzir um artigo analisando, por exemplo, o cenário político cultural do Brasil, com tantas atidões, falar, bom, alguns anos atrás eu quer vim um artigo desse em 20 minutos. Hoje me dá dois dias de trabalho, cada artigo. Porquê? Simplesmente eu não quero mais falar disso, eu não aguento mais o Brasil. Eu tenho uma vontade, porquê? Não porque as coisas serão difíceis, mas porque elas são demasiado óbvias. É isso. E você vê que a teimosia das pessoas no Brasil é uma coisa assim, absurdo, não é? Desde o início dessa crise eu estou falando, fala, olha, a revolta do povo é contra todo o establishment. Portanto, nós temos aí o quê? Uma revolução em marcha, ou é isso, ou é nada? Agora, se ele queria fazer a revolução através de um requerimento aos senhores deputados, fala, é absolutamente impossível, isso é inviável, isso não vai funcionar nunca na sua vida. Os deputados vão fazer você de idiota, como já vem fazendo a mesa. Existe uma coisa que eu tenho que fazer, é uma questão de você analisar as estruturas do poder, as possibilidades de ação, não são dos meios de ação, quais dos meios de ação disponíveis aqui e ali, você faz um exame científico que diz, olha, só tem uma saída é esta. Então, a pessoa não quer fazer outra coisa, está muito bem, você tente, mas não vai dar certo, daqui a pouco você vai ter que fazer o que eu disse para você fazer. E essa teimosia é que está me cansando, as pessoas entendem no Brasil tudo como tomada de posição, isso é incrível, quer dizer, é uma mentalidade, assim, de ativista e de militante. Conheço o sujeito que dizia antigamente, brasileiro não tem espírito científico, eu digo que isso é pura verdade, então, se não sabe o que é uma descrição da realidade, eles não entendem isso, eles entendem que tudo está falando, porque você quer que seja assim. Você sabe, não é que eu quero que seja assim, meu Deus do céu. Pois, porque o pessoal falou de intervenção militar, começando a analisar as dificuldades, os prósios, contras, então, quando eu falava prós, as pessoas achavam que eu era a favor, quando eu falava os contras, as pessoas achavam que era o contras, eu falei, não, estou analisando os prósios e contras, pô, é muito difícil de entender isso, quer dizer, não tinha chegado a uma conclusão. E quanto a esses meios de ação que existe, eu sempre dou muita atenção a esse, as pessoas não entendem o que são meios de ação. Se você não tem os meios de realizar uma ação, você não vai realizá-las, você pode fazer outra coisa com esse nome. É isso. Também, vou me para a questão de impeachment, eu peço a pergunta, você é favor ou contra impeachment? Que sentido faz você a favor ou contra o treco desse, meu Deus do céu? Isso é um dos muitas linhas de ataque que você tem contra esse governo. Então, você fazer propaganda de impeachment? Bom, ajuda no fim das contas. Embora o impeachment não saia. Na verdade, você vai ter que fazer desobediência civil, resistência pacífica, não tem outro caminho. E o impeachment não é uma alternativa, você faz resistência pacífica ou faz impeachment? Não, até você falar favor ou impeachment, também se soma à resistência pacífica. Não cabe a nós determinar, o que vai acontecer, nós só podemos opor uma força a outra força, de maneira muito genérica. Então, o que importa, vamos dizer, é somar esforço. Agora, a pessoa diz que nós precisamos entrar na cor, na opção de união, e fala, não precisa, não, meu filho. Disputas entre grupos políticos, jamais foram impedimento ao progresso de todos. Se você olha a história da esquerda, as disputas são horríveis, muito pior do que as que tem da direita pra eu. Você gosta, né? E se você estuda a história dos concílios da guerra católica, também dava morte. E fala, isso aí nunca impediu que um movimento prosperasse. Não é este o problema. Aliás, a tensão interna é um elemento que mostra saúde. As pessoas estão lutando, estão tentando ganhar as outras para a sua própria causa, a sua maneira de viver, que elas estão atuando, estão fazendo alguma coisa. A licença global é impressionante. Chegam lá e têm o impeachmentista, tem o intervencionista, tenho não sei o que, tem isso, mais aquilo, no global, é uma força tremenda ali, não tem por tança de visão, não. Agora, é isso a ir que me tira o embalo de escrever sobre... eu digo que eu levo dois dias, um dia é só para me motivar. É só para me motivar. Eu me convencer de que eu tenho que dizer alguma coisa para esse pessoal dos vários movimentos. Quanto tempo levou para o senhor dominar o idioma mesmo sabendo que o senhor aprendeu a dominar a língua esravidas latin? Bom, eu, com 17 anos, escrevi em português perfeitamente correto. O que era suficiente para trabalhar como jornalista. Mas para eu virar no escritório eu precisei de mais 20 anos depois disso. Então dominar o idioma jornalista é um bom começo. O jornalista, no meu sentido, era, hoje não é mais. Era um bom treinamento. Hoje você desaprende. Naquele tempo você aprendia a dominar a formuleta da redação notícia assim, na forrada. Seus deditores te obrigavam a fazer aquilo, então você aprendia. Mas, você escrever no jornal serve para você dizer o que o jornal quer que você diga. Já é alguma coisa, porque é uma imitação. Você está aprendendo um estilo, pera imitação dos outros. Até assim você tem redatores melhores e piores, você vai copiando os melhores, então você aprende alguma coisa. Isso aí, para fazer um escritório, o trabalho é muito longo. Se eu conheço o trabalho do Pércio Meneza, escritor que produz o artigo que se esconde por trás da legação dos cursos de ódio. Eu só li esse artigo que é notabilíssimo. Excelente artigo. Eu não conheço o que mais ele possa ter feito. O Lissis pergunta, ainda sou no primeiro ano de curso, eu estou sem alinhar os rumbos que pretendo tomar meus estudos. Sobre a vocação intelectual, o Padre Céu Tiong diz que devemos estudar profundamente apenas três ou quatro autores da nossa área. Mas eu imagino que antes disso nós devemos concluir o ciclo básico, que seria o estudo da literatura universal. Primeira coisa a fazer, isso eu já expliquei no curso sobre princípios e médio da educação, é você ter a bibliografia e o status questiones de tudo quanto lhe interessa. Não que você não tenha lido nenhum dos livros. Você tem que saber quais são os livros fundamentais e mais ou menos o que eles dizem, por que se tornaram fundamentais e isso vai lhe dar um senso de orientação na história daquela disciplina, na história daquela questão. Esse é o primeiro passo em tudo. Não no aprendizado de idioma, evidentemente. O aprendizado de idioma não é assim, não é coletando livros. O aprendizado de idioma é a trabalho de estudos da gramática, da prática e da imitação dos bons autores. É imitação dos bons autores é básica. O que é imitação? Você escreveu em tal modo que parece que foi ele que escreveu. Entire o estudo da literatura universal, educação de imagina. Sim, o estudo da literatura universal, mas isso vai durar o resto da sua vida, porque foi exatamente o que eu fiz. Eu peguei a história da literatura, esse detalhe do Otmania Carpo, e fiz a lista de todas as obras literárias que eu iria ler pelo resto da minha vida que eu estou lendo até agora e não acabei. Nem provavelmente vou acabar. O que fez Otmania Carpo quando chegou a Brasil? Ele falou que eu preciso me informar sobre a cultura local. Então ele fez aquela pequena bibliografia crítica da literatura brasileira. Ele pegou os vários autores cronologicamente e coletou várias referências da crítica. Ele fez isso antes mesmo de ele ler os autores. Ou seja, então ele tinha a ideia de como a crítica recebeu fulano, fulano, fulano, fulano. Com isso aí ele tinha a lista completa do que ele precisava ler para conhecer a cultura brasileira. Como de fato ficou conhecendo, ele virou talvez o mais importante crítico literário brasileiro. Claro que uns anos depois ele já tinha ali tudo aquilo com a maior facilidade. Para um indivíduo acostumado, treinado na Universidade Austríaca. E então ele dominar a cultura brasileira é uma coisa que não ia gastar mais de dois anos. E você tem que se qualificar para isso. Você vai visitar um país muito bem. Então eu quero saber quem são os poetas, qual é, que as pessoas dizem dele, o que é importante ele ler, o que não é. A terceira de você é fazer esse roteiro, depois você absorve tudo. E assim, todo país que eu visitei eu fiz isso. Às vezes você vai, depois você vai completar a leitura, às vezes não vai completar, mas pelo menos você sabe o que é necessário. Quer dizer, é o mapa da sua ignorância. Quer dizer, quais os livros importantes que eu não li ainda. Isso faz parte do mapa da ignorância. E você sabe que você não leu tal livro, mas que ele é importante por isso, por isso, por isso, que ele influenciou, fulano, fulano. Isso aí é o mapa da ignorância. Ele pergunta, eu queria saber quanto tempo mais ou menos devemos passar nesse ciclo básico e como articular esses estudos com a nossa especialidade. Eu acho bom. Eu acho que para você organizar as várias bibliografias do que ele interessa, você pode usar um ano ou dois. Gasta dois anos com isso, será bem gasto. Mas não é só título de livro, você tem algo a respeitar do livro, você tem que saber. Então, qual é o consenso da crítica a esse respeito? Depois de você fazer isso, o seu mapa daquela disciplina não está completo porque tem os pontos cegos da crítica. É uma coisa importantíssima que os críticos não perceberam, mas isso tem uma segunda fase. Eu queria ajudar profundamente, chamada ciência tradicional, simbolismo, cosmologia, astrologia. E mais tarde, acho importante me aprofundar nas questões políticas atuais. Será que esses objetivos são compatíveis? É claro que são, pois eu mesmo fiz isso, deve ser possível, porque senão não teria feito. Alexandre Bruno Rauu Freitas pergunta, é possível uma percepção pura dos objetos entendendo com percepção, pulo uma percepção sem a intervenção da memória, como propõe a Riban-Gson? Eu não acredito que isso seja possível nem que isso seja necessário. Ou seja, você não pode se desligar da sua identidade para você conhecer um objeto. Também não existe objeto puro. Esse aqui é o ponto. O que é um objeto? Um objeto é um núcleo feixe de informações que ele está permanentemente irradiando para vários sujeitos em torno e para outros objetos também. Quer dizer assim como você tem a sua forma de percepção, ele tem a sua forma de irradiação ou de informação. Não existe objeto puro. Isso é a coisa mais absurda do mundo? Quer dizer que isso seria objeto puro? Seria aquele que foi percebido sem nenhum aparato de percepção? Enteeramente absurdo. Então eu tenho aqui a mesa. O que é a mesa pura? É a mesa que passasse todas as informações de todos os seus ângulos ao mesmo tempo, mas nenhuma mesa tem essa propriedade. Ela tem lados. Não é eu que a vejo por um lado, ela própria tem lados. Você pega uma caixa. A caixa tem um externo interno. Ela pode mostrar as duas coisas ao mesmo tempo. Não dá. Você pega um ovo. Ele tem a gema e uma clara dentro. Se eles foram o ovo inteiro. Vou viajar a gema e a clara e você quebra o ovo. Agora tem um ovo que você possa viajar e a clara antes de quebrar o ovo. Isso não é uma limitação sua, é a limitação do ovo. É esse o ponto que o cretino do canto jamais percebeu. Quer dizer, o canto tem um crio falso, o problema. A alcohol, a ribicocinthia, está dando uma solução também falsa, porque o problema existe. O que você vê são as coisas em si mesmas. As coisas em si mesmas têm lados, tem limitações internas. Um bicho não pode se mostrar em movimento e mostrar os seus órgãos internos ao mesmo tempo. Não é você que não pode ver. Ele não pode mostrar. Você abria a barreiga do urso e o urso morreu. Aí você não pode ver ele andando. Então esses vários lados, eles correspondem à nossa estrutura de percepção e à estrutura de exibição do objeto. Para você testar isso aí, é só você fazer a testa do espelho. Você põe o espelho lá e você se olha de perto e depois se olha de longe. Se você está perto, você se vê de uma maneira. Se você está longe, você se vê de outro. Você pode inverter isso aí. Eu estou de longe e me vejo como se estivesse perto. É o dilema daquela dupla de irmãos que eu conheci que dizia que o LSD abria as portas da percepção porque o irmão dele estava 50 metros e ele cuchichava falando. E ele a 50 metros ouvia, quer dizer, abria as portas da percepção. Você sabe que é ele que estando a 50 metros ouvia como se estivesse a 50 centímetros ou você que estando a 50 centímetros enxerga como se ele estivesse a 50 metros. Eu nunca tinha pensado nisso. Eu falo, cante também nunca tinha pensado nisso, mas só você inverter o negócio, tentar olhar pelo outro lado. Você vai ver que isso é um problema absolutamente falso. Uma coisa em si mesma é um absurdo dos absurdos. Uma coisa em si. Mantenha que ser a coisa absolutamente separada de tudo. Quer dizer, um objeto que não transmitisse informação para nenhum outro. Isso não pode existir. Não existe coisa em si. Isso existe coisa para. Existe um objeto para, um sujeito para outros objetos. Todos nós somos assim. Você vê uma tartaruga, você vai ver pela casca fora. Você quer ver dentro, você vai ter que cozinhar a tartaruga. É a limitação sua? Claro que não. A distância dos objetos também. Se o objeto está mais longe, ele vai ser visto bem nortes. Se está mais perto, ele é visto maior. Exiborneceu, é a sua visão que é distorce, é coisa... Não, o coitado do objeto também tem essa limitação. Claro, é exatamente. Você vê ali, se ela vem a tartaruga andando. Ela está lá longe, ela parece pequenininha, ela vai vir e ainda aparece maior. Peça para ela, fiquem lá longe e se mostrem para mim como se você estivesse perto. Cresça para que eu te veja a distância como se você tivesse 50 centímetros. Ela não consegue fazer isso. Então, vamos dizer, não são limitações da percepção humana. Não é o nosso quadro, a priori. É o quadro da priori de tudo. Nicolás Hardman, eu falava isso, que existe o a priori do objeto. O qual ele não pode ser o objeto. É uma ideia que nós podemos explicar da maneira muito mais simples do que o que o Hardman explicava, dizendo exatamente o que eu estou dizendo agora. O objeto não pode se mostrar como é em si mesmo, porque ele só pode se mostrar para outro. O que é a mesa se mostrando para si mesma em si mesma? É uma mesa subjetiva, que tem uma alta imagem completa por todos os lados da minha terra. Isso não existe. Quer dizer, o modo de existência física dela, que é tridimensional, exige a limitação da sua eximição pelos vários lados, senão ela não teria lados. Será muito difícil entender isso? Então, vamos dizer, a percepção mais correta não é a percepção pura. É a percepção que dá conta da relação real que você tem com o objeto dentro de um espaço determinado. E para isso, a primeira coisa que você exige para isso, é que você deseje que o objeto seja visto por você, como ele está se mostrando, não forçando hipotéticamente uma visão cubista, por exemplo, ver o objeto por todos os lados ao mesmo tempo. Você ver por um lado e pensa o outro lado. Mas esse lado não existe só no seu pensamento, se ele se fosse só no seu pensamento, ele não estaria no objeto, portanto, o objeto não existiria nesse outro lado. William Lauria pergunta, seria adequado como treinamento vocabular fazendo a descrição exaustiva sobre uma situação escolhida exaustiva? Não, exata. Com o exaustivo, você vai se perder. Com a máxima intenção, a tensão e a extensão ao mesmo tempo imaginaram um escritor, não menor que cheio, por objeto, por objeto alido, descreve da mesma situação, sim, você pode fazer isso, mas não tenta fazer a descrição exaustiva. E também eu sugiro que você não comece com um objeto, porque não há nenhum objeto que você conheça melhor do que os seus próprios pensamentos, suas próprias emoções. Tente expressar em palavras o que você sentiu em determinada situação, por exemplo, se uma pessoa te indice em certas coisas, o que você sentiu? Às vezes você não consegue nem achar o nome da emoção correspondente, então isso já é um problema, a pessoa já não sabe os nomes das várias emoções, elas confundem uma coisa com outra. Então, saber os nomes das emoções já é algo, vai não adicionar a analógica e tenta pegar as várias emoções e a imensidão de palavras que existem em torno para você descrever as diversas nuances daquilo. Então, você ter as palavras já é alguma coisa. Então, manejar adicionários, digo, bom, Gilberto Amado diz, olha, eu não consigo escrever como escritor sem um dicionário. Presta atenção, escrever como escritor, se tu quer dizer que ele não souber escrever sem dicionário. O escritor vai ter que botar na sua expressão a língua, isso é algo a mais que o uso corrente utilitário da língua não importa, o corrente é sempre convencional e o objeto, veja, se você ler um artigo analístico, uma notícia, ou às vezes uma coisa em academia, não tem nenhum objeto real ali, só tem objetos convencionais já definidos e já conceituados. Para dizer a realidade precisa algo mais, aí que eu vou dizer um dos grandes problemas da filosofia é esse, o filósofo tem um lado literário que ele não pode pular, porque para você analisar a experiência, primeiro você precisa ser capaz de expressá-la, e expressá-la quer dizer descrever-la ou narrá-la, isso é um desafio puramente literário, porque isso eu nem consigo descrever, então, seguinte, eu vou ter que usar algum conceito já pronto, ou eu tenho sorte de que alguém já conceituou aquela experiência de maneira exatíssima e basta eu usar aquela palavra, todo mundo vai saber o que eu estou falando, ou então eu vou estar falando de outra coisa pensando que eu estou falando da mesma. Então isso aí quer dizer um deslocamento, um hiato de consciência, uma paralaxia. Lucas Portirio perguntou-se, aquilo que dizia a Rolhão Marias, que o desejo de realidade tendência a negação da realidade que o existe no homem, quais são os elementos presenciantes nessa tensão característica da vida humana? Ele falou, bom, não é bem a tendência a negação, o problema é aquele que eu mencionei no começo, a realidade como tal é inabarcável. Então, para representá-la, é por isso que negaram a parte dela. Você não vai negar a existência daqui, você vai negar a tensão aqui. Toda percepção supõe, vamos dizer, um centro de atenção, um foco que determina uma perspectiva em torno, sem isso não é possível, isso não quer dizer que nós estejamos distorcendo, por quê? Porque os objetos também se apresentam com as suas respectivas perspectivas. E a paisagem também é um cruzamento efetivo de muitas perspectivas. Então, por exemplo, eu estou aqui desenhando um lobo. Eu sei que o lobo pode me ver do lado e do lado. Se eu não tiver a medida do que ele está vendo de mim, eu também não tenho a medida do que eu estou vendo dele, quer dizer, eu não estou medindo a distância direito e as nossas relações efetivas. Se eu estou desenhando um ser que tem a capacidade da visão, a visão dele está incluída na perspectiva que eu estou fazendo dele. Se você está desenhando um objeto inerte, ele não está te vendo, mas ele está se exibindo. Então, você tentar restaurar essa relação real que você tem com os objetos implica a abstração. Toda percepção é abstrativa. O que não quer dizer que ela está falsificando a realidade? Meu Deus do céu! Se não nós teremos que dizer que só existe a verdade quando você está vendo o universo inteiro de maneira simultânea. Então, essa é a mesma coisa. É verdade, isso existe para Deus. Sim, a verdade só existe. A verdade total só existe para Deus. Mas nós participamos dela. O que é que é participar? É ser uma parte, é executar uma parte. E importa que esta parte esteja bem delimitada e bem encaixada na circunstância imediata e no fundo invisível. Portanto, isso quer dizer que cada objeto, por mais modesto que seja, ele tem um certo coeficiente de invisibilidade e de mistério. Todo objeto tem. Isso faz parte dele. Porque qualquer que seja ele, ele está dentro do fundo infinito. Ele está dentro do ápero, por assim dizer. O ápero só existe para nós, para Deus não. Então, vamos dizer, essa ideia de que a representação tem que ser exaustiva e quantitativa, ou ela será falsa. Essa noção é falsa, por sua vez. Se você fosse, por exemplo, ah, quero fazer uma representação exaustiva. Então, bom, primeiro lugar, ela será quantitativa, ela será uma lista de coisas. E depois de você fazer a lista de todas as coisas, agora articulhas na devida perspectiva não dá mais, porque os objetos são inúmeros excessivos. Então, a atenção humana, ela naturalmente faz essa seleção. E essa seleção não é para representar o objeto em si, o qual não existe. É para representar o objeto tal como ele se mostrou a você. E não um terceiro, embora você possa, se quiser, você pode incluir a perspectiva de um terceiro também. É como faz Velázquez, no quadro das meninas. Ele está desenhando a perspectiva dele, mas incluindo a sua perspectiva do observador, que está representada na figura do rei da rainha, que aparece no espelho, no fundo. Aquilo é um exemplo de adequação de perspectivas. E é um exemplo de apreensão da realidade, apreensão muito eficaz da realidade. Isso que nós devemos alcançar, que é a perspectiva, o encaixe correto das perspectivas e não uma hipotética à apreensão do objeto em si. Tudo aquilo que é objeto é objeto para outro, porque eles existem em algum lugar do espaço, portanto, ele já está, pelo cifrado existir, já está colocado dentro de um tecido de relações de perspectivas. E isso é o que ele é. Se você falar objeto em si, bom, objeto em si é uma abstração que você inventou e que não existe em parte alguma. O mundo não é constituído disso. O mundo é constituído de objetos que se intercomunicam, que se exibem e são aprendidos, sobre várias perspectivas. Algumas das quais são imediatas e são captáveis no momento, e outras não, mas você sabe que elas estão lá. Por exemplo, quando você conhece uma pessoa, ela está com determinada idade, mas ela nasceu com essa idade? Não, ela está aí desde que nasceu, há muito tempo. Então você sabe que todo este passado dela está nela, você não vê? Ah, mas isso é só uma coisa que você pensou? Não, isso é só uma coisa que você pensou, não estaria nela, estaria em você. Então a pessoa vem para mim com todo o seu passado, com toda a sua história, com toda a sua retaguarda, e nós antevemos isso aí. Nós sabemos que isso está presente, isso é uma tensão que está presente como círculo de latência. O passado faz parte do círculo de latência. Então, essa, vamos dizer, fidelidade à perspectiva real, isso é que é o centro da busca da verdade. Agora, para isso você precisa treinar com pequenas verdades. Não adianta você querer chegar às grandes verdades da filosofia, mas pera aí, não é assim que se faz, não é assim que só quer se fazer. Ele pegar questões bem menores, né? Então, bom, eu acho que por hoje é só. Funcionou, deu para entender. Então, até a semana que vem, muito obrigado.